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O escritor Luís Fernando Veríssimo completa 80 anos nesta segunda-feira (26) | Divulgação/
O escritor Luís Fernando Veríssimo completa 80 anos nesta segunda-feira (26)| Foto: Divulgação/

Nas semanas que antecederam seu aniversário de 80 anos, comemorados nesta segunda-feira (26), o escritor Luís Fernando Veríssimo quebrou o silêncio de sua personalidade discreta em uma série de entrevistas.

Nelas, Veríssimo falou, com a ironia habitual, sobre envelhecer e sobre seus projetos para o futuro. E também muito sobre politica. O escritor, que nunca escondeu sua simpatia pela esquerda e pelo “PT original”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que se sentia um “esquerdista desiludido” com as recentes denúncias da operação Lava Jato e que se sua personagem a “Velhinha de Taubaté, a última pessoa que acreditava no governo,” estivesse viva, estaria apoiando o PT e o governo Temer.

“Embora entenda que o governo Lula, principalmente o primeiro mandato, foi muito importante em termos de inclusão social. Mas posso me caracterizar agora como um esquerdista desiludido”.

Neste domingo, em entrevista à Folha de S. Paulo, o autor mostrou-se preocupado com a ascensão da direita no mundo e afirmou que “cedo ou tarde as pessoas se darão conta de que a escolha continua sendo entre socialismo e barbárie”. Na mesma entrevista, porém, ele disse que gostaria de poder voltar no tempo e dar uma revisada nas bobagens e palpites errados que cometeu.

Literatura com ‘L’

Cronista, cartunista, ficcionista, saxofonista e torcedor fanático do Internacional, Veríssimo é autor de quase 60 livros, que já venderam cinco milhões de exemplares (entre eles, os best-sellers “O Analista de Bagé” e “A Comédia da Vida Privada”).

Filho do também autor Érico Veríssimo, ele só começou a escrever aos 32 anos, depois de ter passado por várias escolas de arte e desenho, inacabadas; de ter tentado o comércio “só para reforçar o mau jeito da família”; e de ter passado por uma rápida carreira jornalística, de revisor e colunista de jazz a cronista principal do jornal gaúcho Zero Hora.

Apesar de ser um dos autores mais lidos e admirados do país, Verissimo ainda não se considera capaz de escrever uma “literatura com L”, como costuma dizer. “Esse tipo de literatura depende de uma ambição, de uma necessidade de escrever, e isso eu nunca tive. Quando comecei, tinha apenas a necessidade de ter uma carreira”. Para ele, “melhor que escrever, é ter escrito”.

Ofensas

Veríssimo também evita a leitura dos comentários ferinos que seus textos, especialmente os políticos, recebem. “Nunca escondi minha simpatia pela esquerda e pelo PT original. Mas, hoje, mesmo criticando a forma como o PT se afastou da esquerda, sou atacado, mas não sei de que forma, pois, quando percebo se tratar de uma lista de ofensas, nem termino de ler.”

O escritor gaúcho faz observações também sobre a forma de falar do presidente Michel Temer. “O português é uma língua danada. Falar corretamente é algo tão raro que chama atenção, como no caso do Temer. Colocar o pronome no lugar certo é elitismo.”

Veríssimas

“Quando produzimos um texto, estamos envolvidos com a técnica, o que impossibilita saborear essa escrita. O prazer parece que vem depois, especialmente quando agrada a outras pessoas. Gosto de ler coisas que escrevi há anos e ainda acho bem boladas. Por outro lado, eu me afasto das bobagens.”

Veríssimo disse que surpreendeu-se ao assistir ao mais recente filme de Woody Allen, Café Society, Verissimo surpreendeu-se quando um dos personagens disse algo assim: “O ideal é viver cada dia como se fosse o último - um dia, você acerta”. “Eu disse ou escrevi essa frase há algum tempo. Quem diria, Woody Allen me plagiando”, diverte-se.

A frase usada por Allen é um das que compõem o livro Verissimas (Objetiva), coleção de cerca de 800 verbetes organizados em ordem alfabética e que trazem comparações, máximas, mínimas e metáforas do mestre do humor sintético.

Obra infantil

O lançamento da coletânea na primeira semana de outubro marca a comemoração dos 80 ao lado do lançamento de “As Gêmeas de Moscou”, obra que marca sua estreia como autor para o público infantil.

Desde o nascimento da primeira neta, Lucinda, há alguns anos, Luis Fernando Verissimo passou a dedicar mais espaço para retratar o mundo infantil. O maravilhamento logo o convenceu a estrear na literatura para jovens com “As Gêmeas de Moscou”, que a Companhia das Letrinhas lança em outubro, próximo do dia 12.

Com ilustrações do curitibano Rogério Coelho, a obra acompanha Olga e Tatiana, irmãs gêmeas e bailarinas. Mesmo parecidas, as duas se diferenciam pelos atos - Olga se destacava mais que Tatiana no balé, mas era arrogante e tratava mal a irmã, que, mesmo assim, com seu jeito doce, sempre a apoiava. Certa noite, porém, quando a meia-calça de Olga cai durante uma apresentação, ela acaba recebendo uma valiosa lição.

Na conversa com o jornal “O Estado de S. Paulo”, Verissimo falou sobre o prazer de ser bem recebido pelo público infantojuvenil. “Encontro muitos adolescentes que dizem ter se iniciado na leitura com livros meus”, comentou. “Isso é gratificante. De alguma forma, eu me sinto participante dessa luta, desse bom combate que é tentar criar um público leitor.”

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