Ana Johann, diretora do premiado “Notícias da Rainha”: obra analisa caminho do roteiro.| Foto: Divulgação

Certos cnidários (filo biológico dos pólipos, medusas e águas-vivas) apresentam comportamento nobre: alojam entre seus tentáculos algas do fundo do mar e, de quando em quando, sobem à superfície para que as algas possam, na presença da luz, fazer a fotossíntese. Em troca, as algas caroneiras alimentam os moluscos de matéria orgânica.

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Esta simbiose marinha é uma das metáforas exploradas pela cineasta e roteirista Ana Johann no livro “A Construção do Poético no Roteiro Cinematográfico”, que será lançado em Curitiba na sexta-feira (16) no Espaço de Arte (Alberto Folloni, 1534, Ahú) às 19h.

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Para a roteirista e diretora do premiado “Notícias da Rainha” (2013), um bom roteiro deve se comportar como este atencioso cnidário. “O roteiro é o material que aloja potências de imagens e de sons para a direção do filme”, explica Ana.

O livro é a adaptação da dissertação de mestrado de Ana e foi lançado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no mês passado. Ela conta que sentiu a necessidade de lançar o livro, pois há pouca literatura sobre o assunto nas livrarias nacionais.

 

“Eu sou uma roteirista que faz filmes, é isso que me dá tesão. Temos pouquíssimos livros sobre roteiros, na maioria manuais. Me inquietava que as pessoas repetissem que a poética no cinema nasce da direção ou da direção de fotografia e não do roteiro, algo que para mim é falso”, observa.

Livro

“A Construção do Poético no Roteiro Cinematográfico” . Ana Johann. Capicua. 176 pp, R$ 40. Cinema.

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Ainda que seja originalmente um trabalho acadêmico, o livro usa linguagem coloquial para, a partir da análise do roteiro de filmes como “Django Livre” (Quentin Tarantino, 2012) e, especialmente, “Amor” (Michael Haneke, 2012) refletir sobre a construção do poético na escrita do roteiro cinematográfico. “Um bom roteiro pode ou não ser um bom filme, mas um mau roteiro nunca vira um filme bom”, disse.

Novela

Na pesquisa, Ana se concentrou em elementos bem específicos do roteiro destes filmes (como a pomba que aparece em Amor) para à luz de conceitos de filosofia e estética dar conta de um maior entendimento sobre algumas particularidades da escrita do roteiro.

“Este estudo melhorou o meu olhar, ver os filmes de forma diferente, até para os meus próprios filmes”, disse.

Ana identifica um momento de evolução do cinema brasileiro no que toca à construção de bons roteiros, mas ainda percebe, em especial nos filmes que fazem sucesso comercial, uma utilizar estratégias de dramaturgia já consolidadas.

“Há ainda um ranço muito grande da novela que é a nossa principal referência de narrativa. Mas aos poucos, estamos nos libertando”.

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