Depois do anúncio do encerramento de suas atividades, a Cosac Naify vai começar a procurar outras editoras, a fim de repassar os livros que estavam em processo de produção. Charles Cosac, fundador da casa, designou a diretora editorial Florencia Ferrari para cuidar da transição.
A decisão foi tomada em uma reunião de Charles com os diretores da Cosac Naify nesta segunda-feira (30), quando ele comunicou seu desejo de fechar a editora. Na ocasião, ele manifestou vontade de ser “generoso” com a equipe, garantindo que vai pagar os direitos trabalhistas de todos os funcionários.
“Vamos passar adiante de alguma maneira, mas ainda não sabemos como”, diz Florencia. “O provável é que conjuntos de livros sejam vendidos para outras editoras.”
A Cosac Naify não pode vender livros que não estejam em domínio público - para isso, seria necessário acordos com cada detentor dos direitos -, mas pode vender suas traduções e projetos gráficos.
Florencia Ferrari destaca ainda que a editora não pretende fazer uma liquidação para queimar seu estoque. Segundo ela, Charles Cosac “não tem pressa” de vender tudo.
“Temos consciência de que os livros são muito valorizados e vamos fazer uma política de venda, mas não liquidação. A editora não faliu”, afirma ela.
O clima é de tensão na editora paulistana, com a possibilidade de novos cortes em breve, já que a casa não vai mais produzir livros. Departamentos como o de direitos autorais, porém, devem continuar por pelo menos mais seis meses - afinal, é preciso pagar os autores da casa e encerrar contratos.
A tensão se agravou com o fato de Charles Cosac ter cancelado a reunião que tinha agendado nesta terça (1) com os funcionários, para falar do fechamento. O encontro foi remarcado para esta quarta (2). Procurado pela reportagem por e-mail e telefone, ele não foi localizado para comentar o caso.
Questionada sobre a possibilidade de demissões já nos próximos dias, Florencia Ferrari diz “não saber”. “Talvez. Estamos todos demitidos de alguma maneira”, afirma. “A editora nunca encontrou um equilíbrio de fato. Há uma exaustão.”
Embora tenha negado em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” que o fechamento se deva à crise econômica, no comunicado interno à equipe da Cosac Naify, Charles fez referência ao corte de 30% na folha de pagamento realizado em maio deste ano. “Todas as medidas possíveis foram tomadas, mas elas não foram suficientes”, escreveu ele no e-mail à equipe.
Em 2014, o mercado editorial sofreu com o atraso e a interrupção de programas de compras de livro pelo governo. A Cosac foi especialmente afetada por esse cenário, acarretando o fechamento do departamento de livros infantojuvenis e a demissão de Isabel Lopes Coelho, editora responsável.
Outro problema é a alta do dólar. Por conta dos projetos gráficos arrojados - mas de difícil viabilidade comercial - a editora vinha imprimindo seus livros na China. Com a mudança no câmbio, projetos se tornaram inviáveis.
“Estamos com dificuldade para imprimir no Brasil. Teríamos que tirar capa dura, empobrecer os projetos. Enquanto isso [o dólar] estiver assim, não dá para imprimir”, afirma Florencia Ferrari.
Nos últimos dois anos, a Cosac Naify também vinha praticando descontos agressivos em sua loja on-line - alguns chegavam até 70%. Isso se devia à dificuldade de vender o fundo de catálogo em livrarias. Alguns analistas, porém, costumam avaliar que a editora tenha sido sufocada pelas constantes promoções.
Entre a série de problemas causadores de desgaste, ainda somou-se um roubo de livros por um funcionário, acontecido há um mês. O total roubado chega a R$ 10 mil, mas funcionários da Cosac Naify dizem que há livros que podem não ter sido computados pelo sistema. O funcionário foi demitido.
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