Leonardo Padura durante coletiva na Flip| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No inicio da década de 1990, quando o cubano Leonardo Padura começou a escrever sues romances policiais tendo como protagonista o detetive Mário Conde (e sua eterna ressaca), era tomado por um autor menos ao dedicar a este gênero considerado periférico em comparação com uma literatura supostamente mais séria.

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Vinte e cinco anos depois, tempo em que se tornou um dos escritores mais premiados da língua espanhola – o último foi o prêmio Príncipe de Astúrias em 2015 - ele vê a situação se inverter.

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“Eu era marginalizado por escrever romances policiais e hoje me reconhecem pelo mesmo motivo. Sinto que venci a batalha”, disse Padura em entrevista coletiva dada durante a Festa Literária de Paraty (flip) na manhã desta quinta-feira (3).

“A narrativa policial pode ser também grande literatura. Depende da força que o escritor coloca no trabalho. Ela também é um veículo importante para criar a crônica social de um tempo, ainda mais em Cuba, um país cheio de particularidades, em que a politica é um fantasma que envolve a tudo”, disse.

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A contradição política é uma batalha ainda por vencer para o autor. Padura é um escritor internacional, publicado em 21 países, mas que vive em Cuba desde sempre. Algo que extremistas de esquerda e de direita não entendem. Em casa, o escritor é considerado critico contumaz do sistema politico. Fora, o acusam de ser muito condescendente com a politica da ilha. Para Padura, um sinal de que seu trabalho está sendo bem feito.

“O escritor tem como primeira responsabilidade a literatura. Senão todas as outras intenções fracassam. Seja as de caráter humanista ou politico. Nós, romancistas cubanos temos uma responsabilidade adicional que é fazer desde o romance uma crônica da vida cubana que não aparece nos jornais oficiais. Há toda uma carga enorme de conflitos e personagens que não aparecem”, explica.

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Ainda que tentasse falar apenas de literatura e de seu novo livro, “Os Hereges”, recém-lançado pela Editora Boitempo, foi a situação politica e o recente estreitamento de relações entre Cuba e os Estados Unidos – e o anuncio feito na ultima quarta-feira (1º) da abertura de uma embaixada americana em Havana – que dominou a conversa.

Padura afirmou que, embora não seja cientista politico nem adivinho, acredita que as novas relações entre seu pais e os EUA tem componentes simbólicos que podem dar uma mensagem importante ao resto do mundo. “Ainda que se reconheçam as diferenças é possível estabelecer uma relação mais justa. O mundo está precisando de diálogos”, prega o autor, famoso pelos diálogos ferinos que escreve em seus romances.

Na coletiva, ele também se mostrou capaz de formular frases de grande efeito ao tentar explicar as contradições de seu pais. “Durante muito tempo, Cuba foi preto ou branco. A esquerda romântica via o paraíso socialista e a direita reacionária viu lá o inferno comunista. Não é uma coisa, nem outra. É mais como um purgatório”, compara.

“Há coisas que não funcionam e outras que não poderiam ter acontecido, mas pessoas, apesar de pobres, não morrem de fome. Mas, se você tem uma dor de cabeça, não tem aspirina para tomar. Porém, se vai ao hospital eles te fazem uma ressonância magnética de graça. Parece uma caricatura, mas pode acontecer”, relata. “São tantas peculiaridade que penso que as mentes abertas deveriam tentar entendê-lo no lugar de reafirmar juízos feitos de antemão”, conclui.