Algo de estranho acontece quando se começa a ler “Casa de Praia com Piscina”, romance do holandês Herman Koch. Não é uma narrativa daquelas avassaladoras, que prendem o leitor desde o começo. O acúmulo de detalhes e informações aparentemente irrelevantes pode até soar um pouco entediante no início. Mas há alguma espécie de feitiço lançado pelo autor, que não nos deixa largar o livro. Quando nos damos conta, estamos mergulhados em uma história de dar calafrios, surpreendente até a última linha.
Esse estilo literário fez Koch despontar para o mundo em 2009 com o best-seller “O Jantar”. Nele, dois casais se reuniam em uma refeição para tomar uma importante decisão sobre os filhos. O que começava como um encontro amistoso ia aos poucos descortinando um conflito aterrador. Seguindo a mesma linha envolvente, “Casa de Praia com Piscina” foi lançado dois anos depois. No Brasil a obra ganhou sua primeira edição neste ano.
O protagonista e narrador é o médico Marc Schlosser, clínico geral bem-sucedido que atende várias celebridades. Uma delas era o ator Ralph Meier, que está morto. De início sabemos apenas que os dois tiveram uma ligação mais forte que apenas de médico e paciente. Também nos é revelado que a mulher de Ralph, Judith, acusa Marc de ser o responsável pela morte. E no meio disso tudo há um episódio marcante, ocorrido durante uma viagem de férias.
É preciso cautela até mesmo para fazer uma simples resenha de “Casa de Praia com Piscina”. Porque Herman Koch é um autor que sabe como poucos a arte de surpreender o leitor a partir de pequenos detalhes. Corrigindo: pequenos em um primeiro momento. Por exemplo, quando nas primeiras páginas o narrador discorre sobre aspectos da fisiologia humana, aparência e funcionamento de órgãos. O que pode soar como pedantismo ganha relevância à medida que conhecemos melhor o protagonista e passamos a incorporar seu olhar sobre a realidade da profissão.
Herman Koch. Intrínseca,
331 pp., R$ 32
Marc Schlosser não é um personagem simples, tampouco simpático. As observações ferinas, o sarcasmo e a frieza tornam mais fácil sentir repulsa do que algum tipo de identificação com ele. Acontece que o médico não está sozinho. No universo de Herman Koch ninguém é totalmente inocente ou confiável. Não há pureza.
E assim o autor nos joga em uma narrativa labiríntica em que não sabemos o que esperar da próxima entrada. Quando somos direcionados para um caminho, abre-se outro ainda mais surpreendente. Teorias e suposições perdem sentido, mas não por muito tempo. Quando as coisas parecem se acalmar, a tormenta surge com mais força.
“Casa de Praia com Piscina” tem tudo que um bom thriller psicológico exige e muito mais. Mais crueza, mais crueldade, mais incômodo. Algum sossego para o leitor é possível somente depois do fim. Ou nem assim.
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado