No dia seguinte aos atentados em Paris em novembro passado, o escritor israelense deu uma palestra a uma plateia universitária em Amsterdã, onde mais uma vez defendeu o ponto de vista que expressa em ensaios e artigos há pelo menos 20 anos.
Para Oz, o violento embate global de nossos dias não é entre ricos e pobres, nem seria uma luta entre civilizações (Oriente contra Ocidente, ou algo assim). A síndrome da qual nossa época padece seria uma luta entre fanáticos – todos os tipos de fanáticos – e o “resto de nós.
“Entre os que creem que os seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida é um fim em si mesmo”, diz Oz, no texto “Em louvor às penínsulas”, que serve de introdução ao livro “Como Curar Um Fanático”.
Na sequência estão o ensaio que dá título à obra e um sobre o conflito entre Israel e Palestina. Há ainda um artigo e uma entrevista do autor.
Amós Oz. Tradução Paulo Grieger. Companhia das Letras, 104 pp.,
R$ 35. Ensaios.
Nascido em Jerusalém em 1939, Oz publica romances, ensaios e críticas desde os anos 1960 e hoje é talvez o intelectual israelense mais respeitado do mundo, crítico tanto do governo israelense quanto da Autoridade Nacional Palestina.
Defensor da proposta de dois estados, ele lamenta que “fanáticos de ambos os lados” trabalhem duro tentando transformar uma disputa imobiliária “numa guerra santa”.
Para ele é preciso entender a natureza do fanatismo, para poder, senão curá-lo, contê-lo”.
“O fanatismo é mais antigo que as religiões, os estados, os sistemas políticos e os governos”, afirma Oz.
Combinação de autopiedade com crença em uma redenção instantânea, o fanatismo não seria o volume da voz, mas a atitude movida pelas vozes alheias.
Os sistemas sociais e políticos que nos fazem acreditar que somos uma ilha e que o resto da humanidade é um rival em potencial são monstruosos.
A incapacidade de imaginar, de contar até dois, de duvidar das próprias crenças são características dos fanáticos que segundo Oz só podem ser combatidas com remédios como humor, imaginação, ceticismo e argumentação.
Para Oz, todo homem não é uma ilha e sim uma “península”, ligada tanto ao mar quanto ao continente.
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