Até duas semanas atrás, nunca tinha lido um livro de Nora Roberts, apesar de saber de toda a fama que carrega. Não tenho problemas com os guilty pleasures da vida – aquelas coisas que fazemos e negamos por medo de repressão psicológica e intelectual.
Assimilações generalistas sempre me levaram a crer que, assim como a banda Calypso estava para a música, Nora Roberts estava para a literatura. Então nunca fui atrás. (Não me incomodo com best-sellers, mas não gostei dos poucos que li.)
Bruxa da Noite é primeiro livro da mais nova trilogia de Nora Roberts, a P rimos O’Dwyer. Num resumo grosseiro, a obra traz a história da intempestiva e audaciosa Iona Sheehan, que se descobre descendente de um clã de bruxas e herdeira de poderes sobrenaturais.
Ao lado de seus primos Branna e Connor O’Dwyer, a heroína da história tem de lutar contra uma maldição que pode destruir sua família. Por isso, ela passa praticamente todo o livro aprendendo a usar seus poderes. Iona também tem que aprender a controlar seus sentimentos quando se depara com o irreverente Boyle McGrath, por quem se apaixona, agregando à trama elementos típicos dos romances água com açúcar: sedução, paixão e atritos casuais.
Essa tríade de elementos-chave em romances desse gênero pode ser o que muitos chamam de “brega”. Eu diria que é divertido. Não encontro palavra mais adequada, equiparando com o que costumo ler .
Amparo minha tese não científica nos personagens que encontrei. São descritos com uma linguagem hilária, que puxa o leitor para um mundo perfeito. Eles não podem ser feios e parece que têm a obrigação de assumir características padronizadas para se tornar sexualmente atrativos (um erotismo mediano permeia a obra).
Como o mocinho, por exemplo. Não pense num Boyle McGrath barrigudo ou sensível. “Na sobrancelha esquerda do homem havia uma cicatriz fina como um raio. Por motivos que Iona não podia compreender, ele produziu uma pequena e deliciosa tempestade de luxúria dentro dela. Caubói, pirata e indômito cavaleiro tribal. Como ele podia ser três de suas maiores fantasias num único pacote?”.
E são feitios semelhantes que criam os outros personagens do livro, inclusive as mulheres com seus cabelos e corpos impecáveis, como “fadas” e “guerreiras celtas”.
Mesmo mergulhado em um mundo de magia e cultura celta, com descrições muito bem trabalhadas da Irlanda moderna e medieval, o livro não consegue criar expectativas. Torna-se, desde o início, algo com um fim imaginável. E, talvez por isso, não exija tanto a atenção do leitor, que consegue devorar a obra em menos tempo do que pensa.
Detalhes como estes e uma trama bem previsível – que associo a uma forma usada para fazer uma série de bolos nos quais você pode mudar o recheio e a cobertura – me pareceram as características de Bruxa da Noite, e talvez, dos outros livros de Nora, que também é mestre nos pormenores. Um pôr do sol, por exemplo, pode significar não menos que longos parágrafos de descrição.
Em palavras espontâneas (perdoem-me fãs) li e não gostei, embora tenha me divertido. Nora Roberts pode ser legal, mas, para mim, a fórmula do “amor é tudo na vida” não funcionou.
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