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Lado ativista de Galeano faz parte de uma linhagem de escritores do continente que surgiu nos anos 1930. | Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR
Lado ativista de Galeano faz parte de uma linhagem de escritores do continente que surgiu nos anos 1930.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR

A manhã de segunda-feira (13), quando morreu aos 74 anos o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em Montevidéu, marcou “o fim de um instante na memória do tempo”, na vida política e literária da América Latina.

A expressão entre aspas acima era usada por Galeano para definir a morte. E cabe bem para dimensionar a importância do autor que, escrevendo muito e de forma sedutora, buscou dar voz a uma parcela do povo latino-americano que não costumava figurar na alta literatura regional.

Este Galeano ativista faz parte de uma linhagem de escritores do continente, surgida nos anos 1930, que teve como foco a luta contra as injustiças sociais da região, explica o professor de literatura da UTFPR, Marcelo Lima.

Galeano usou memória cultural para falar de política

Eduardo Galeano era tão fantástico – não só no sentido literário da palavra – que até a política, com ele, bambeava das pernas. A esquerda, por exemplo, adquiria outro sentido

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Uma característica que se tornou aguda quando parte significativa da produção literária de qualidade do continente também acompanhava o desejo de mudança social.

“Autor de textos muito legíveis, contador de histórias nato, Galeano popularizou a utopia de esquerda latino-americana e a ele devemos a ideia de que ‘o empobrecimento da região não é fruto da miscigenação dos nossos povos, da preguiça do nosso povo, mas resultado de séculos de exploração do solo, do subsolo e da alma deste continente’”, diz Lima.

Galeano escreveu mais de 50 livros (traduzidos para cerca de 20 idiomas), entre documentários, ficções e obras jornalísticas, e tinha o futebol, as mulheres, ecologia, e a cultura do continente latino-americano como principais temas de interesse.

E ainda é possível encontrar amor e poesia na maior parte dos textos do autor uruguaio – que também escreveu muito sobre futebol. Ele refutava o rótulo de autor político e fugia da burocracia e da ira dos discursos de esquerda. Sua obra mais famosa será sempre As Veias Abertas da América Latina, que, desde sua publicação, em 1971, se converteu em um clássico da literatura política do continente.

Galeano, porém, chocou sensibilidades de esquerdistas tradicionais ao admitir que escrevera o livro muito jovem (aos 31 anos) e que ainda não tinha formação suficiente para finalizar o estudo histórico e político a que se propôs na época.

A afirmação foi feita depois que o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com um exemplar do livro de Galeano na Cúpula das Américas de 2009. “Eu não seria capaz de ler de novo esse livro, cairia desmaiado”, declarou, para espanto geral dos jornalistas presentes a uma coletiva na Bienal de Brasília, em 2014.

Apesar de doente há alguns anos, Galeano morreu em plena atividade. Nos últimos meses, se dedicava a editar um novo livro chamado Mujeres, com lançamento previsto para a próxima quinta-feira (16). Trata-se de uma seleção de contos e relatos de Galeano dedicados a personagens femininos, sejam elas anônimas ou mundialmente famosas (como Sherazade e Marilyn Monroe).

Galeano que era muito ligado ao Brasil e a Curitiba, usou na ilustração da capa de seu livro derradeiro esculturas artesanais compradas por ele em uma feira em Olinda, Pernambuco.

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