Títulos de Elena Ferrante já publicados no Brasil.| Foto: Divulgação /Biblioteca Azul

Uma reportagem publicada pelo jornal italiano “Il Sole 24 Ore”, no domingo (2), revelou depois de 24 anos a identidade da misteriosa escritora italiana Elena Ferrante, um dos maiores fenômenos literários do país.

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De acordo com a investigação do repórter Claudio Gatti, trata-se de Anita Raja – uma tradutora que trabalha como freelancer para a Edizione E/O, editora que comandou no passado e que publica a obra de Ferrante.

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Judia de origem polonesa, a escritora de 63 anos é conhecida por ser uma especialista em autores alemães e por ter traduzido, entre outros, livros de Franz Kafka. Anita é mulher do escritor italiano Domenico Starnone.

O nome verdadeiro da autora da tetralogia “A Amiga Genial”, que escreve desde os anos 1990 sob pseudônimo, era um mistério, apesar das várias tentativas da imprensa de descobrir sua real identidade.

Devassa

A investigação sobre a suposta identidade da escritora, que nunca revelou o nome verdadeiro ou teve uma foto divulgada, foi alvo de críticas sobre a invasão de privacidade por conta do método utilizado pela reportagem, que se baseou em seus pagamentos.

“No meio literário italiano e entre os professores da área de tradução já circulava há uns dois ou três anos a informação de que Elena Ferrante seria tradutora e mulher de Domenico, que é um escritor conhecido”, conta Maurício Santana Dias, responsável pela tradução da tetralogia “A Amiga Genial” no Brasil, em entrevista à Gazeta do Povo. “Mas acho que não vai mudar muita coisa. O importante é a obra dela”, diz tradutor, contando que a repercussão da reportagem pegou mal na Itália.

O escritor geralmente escreve sozinho. É alguém que não necessariamente quer fazer parte do show business. Ela estava há mais de 20 anos mantendo essa privacidade.

Maurício Santana DiasProfessor de Literatura na USP e tradutor de Elena Ferrante no Brasil.
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Para Dias, apesar de a curiosidade em torno da identidade de Elena Ferrante ser compreensível devido ao sucesso crescente da autora, a investigação foi uma medida agressiva.

“O escritor geralmente escreve sozinho. É alguém que não necessariamente quer fazer parte do show business. Ela estava há mais de 20 anos mantendo essa privacidade”, defende.

“Essa febre toda começou quando ela começou a fazer sucesso nos Estados Unidos, mas acho que não justifica esse tipo de reportagem. Foi feita uma devassa na vida de alguém. É como disse um escritor italiano: seria melhor que fizessem esse tipo de investigação sobre os grandes sonegadores que a gente sabe que existem na Itália”, brinca.

Investigação

A investigação de Claudio Gatti é baseada nos pagamentos feitos à autora e nos imóveis que Anita Raja e seu marido, o escritor Domenico Starnone, registraram nos últimos anos. Apesar da investigação, tanto a autora como a editora se recusaram a romper o silêncio.