Ruth Rocha já escreveu cerca de 200 livros| Foto: Sérgio Barzaghi/Diário S. Paulo/Ag. O Globo

Já em 1990, Ruth Rocha falava sobre os direitos da infância, tendo publicado sua Declaração Universal dos Direitos Humanos e Direitos das Crianças Segundo Ruth Rocha, obras acolhidas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

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Neste sábado (18) em que se comemora o livro infantil no país, a Gazeta do Povo traz uma visão atual dessa dama sobre seus 50 anos de carreira, que serão comemorados com um projeto trianual que envolverá novas encenações teatrais de sua versão para Romeu e Julieta (passada num jardim entre borboletas), do Reizinho Mandão e de Dois Idiotas Sentados Cada Qual em Seu Barril, além de uma exposição e um documentário. Haja imaginação.

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De onde a senhora tirou ideias para 200 livros publicados até hoje?

Eu tenho 160 livros de ficção e acho que são todos diferentes entre si... bolo bastante coisa. Os demais são didáticos, utilitários e uma história da comunicação em oito volumes. Não sei dizer, todo mundo tem muitas ideias, mas o fato de ter ideias em forma literária é resultado de ler muito. A leitura é responsável pela variedade de coisas que eu penso.

A maioria das histórias passa uma mensagem...

Mensagem é coisa de telegrafia. Falo das coisas que me incomodam, que me agradam ou sobre as quais tenho vontade de falar. Acho que a literatura não concebe mensagens, senão viram livros utilitários. As pessoas podem até gostar de ler, como autoajuda...

Que vícios a senhora vê na literatura infantil hoje?

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Sempre tem coisas medíocres, é um direito das pessoas. Para educar, tem que escolher as coisas melhores. Eu não tenho muito medo de a criança ler livro ruim, se ela gostar. Essa história de vampiro, mágico, bruxa, acho uma besteira. Mas não proibiria de ver. Meus netos leram Harry Potter, não tenho nada contra. Ninguém gosta de ler se não souber ler, se for mal alfabetizado, sem vocabulário.

Que temas a senhora ainda gostaria de abordar?

Sempre tem alguma coisa que um dia a gente vai fazer. Tenho um caderno cheio de ideias, só que não uso nenhuma delas.

Por que?

Depois que anoto, percebo que não era tão bom assim. Tenho lá, “torre de babel”. Não sei o que pensei com isso. Para escrever tem que ter autocrítica. Você é o crítico mais importante que existe, pra gente não fazer bobagem.

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PARA LEVAR AS CRIANÇAS

Dia Nacional do Livro Infantil

Biblioteca Pública do Paraná (R. Cândido Lopes, 133), (41) 3321-4980. Dia 18, das 10 às 12 horas. Entrada franca. Especial Monteiro Lobato, com oficina de máscaras, Hora do Conto e exibição da série de tevê Sítio do Pica-pau Amarelo, com direito a pipoca.

O que mudou nesses 50 anos em relação aos direitos da criança, tema abordado pela senhora?

Eles têm evoluído muito. Eu fui educada numa família muito democrática, então não posso dizer que me oprimiam. Mas eu via muita gente ser oprimida, por pais, parentes, avós. De um tempo para cá, os direitos da criança estão mais atendidos, embora eu ache que, junto com essa história de direitos veio muita coisa ruim também.

Por exemplo?

Muita indisciplina, desrespeito, isso não estava no programa. Numa sociedade é importante o respeito. A disciplina não é um fim em si, ela é importante para poder viver. As pessoas que não têm disciplina na idade adulta não conseguem formar sua vida, trabalhar e até mesmo se manter. Mas tem que ser sem autoritarismo, sem berreiro, sem bater, pelo amor de Deus.

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Entra a escola, também...

A educação moderna é ótima, tem vários países por aí, como Suécia, Noruega, onde ela é primorosa, e as pessoas cumprem suas obrigações, são mais ou menos modestas, não têm ambições de fazer uma fortuna... agora no Brasil parece que a coisa virou do avesso. Estou achando que a educação pública teve uma decadência muito grande. Quando eu era menina, a educação era mais produtiva, a gente crescia, aprendia uma porção de coisas, como obedecer a quem devia. Falta na educação atual uma certa consequência, saber para que servem as coisas. Falta ao educador o conhecimento teórico. Vejo com tristeza cada vez que muda o governo quererem mudar tudo, fazer leis novas, e ficam os professores sem saber como fazer. A educação devia ser dirigida por educadores, não por políticos.

E a relação entre pais e filhos, mudou muito?

Mudou para melhor. Embora eu ache que tem muita coisa ruim, porque tem gente que dá liberdade que é um absurdo. Não querem ser pai e mãe, querem ser amigos. Mas são pais, tem que corrigir, explicar, e tem que saber negar. Até para a saúde mental é importante que a família ponha limites, que a criança saiba seus limites. Quando não sabem, fazem despropósitos, se jogam no chão... Mas se você dá um berro elas param.

De vez em quando serve um berro...

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Só um tá bom (risos).

Que outros temas a incomodam hoje?

Sou muito otimista. Acho que as coisas vão se consertando com o tempo.