No livro “O Grifo de Abdera”, o escritor Lourenço Mutarelli cria diversas personalidades a partir de sua própria.
Um breve resumo do enredo: Mauro é roteirista dos quadrinhos de Paulo. Os dois publicam sob a alcunha de “Lourenço Mutarelli”, representado publicamente pelo bêbado Raimundo.
A morte de Paulo força Mauro a tentar uma carreira solo – e seu primeiro livro é bem-sucedido. É quando ele recebe de um estranho uma moeda antiga (o Grifo de Abdera), e sua vida muda com a presença de outro sujeito: Oliver, que entra para a estranha confraria de personagens.
“Há muita pompa em volta da literatura”
Confira a entrevista com Lourenço Mutarelli
Leia a matéria completaEsse tipo de “transtorno dissociativo de personalidades” sempre rondou a obra do escritor e quadrinista paulistano que, neste sábado (17), estará na Itiban para autografar o novo livro e falar sobre seu processo criativo.
Mutarelli conta, no entanto, que o assunto tomou outra de dimensão por causa de uma mudança na vida pessoal.
“Sempre tive um fascínio muito grande pelo duplo. E isso aparece no livro porque parei com os antidepressivos depois de 28 anos de uso”, revela em entrevista à Agência O Globo.
“Isso me tornou uma pessoa muito melhor, muito mais suave. Deixar de tomar remédios mudou radicalmente a minha pessoa”, afirma. “É claro que há momentos em que eles são fundamentais para sair do fundo do poço. Mas, com o tempo, você vai se fechando, se isolando e anestesiando a própria sensibilidade. Levei um ano para parar, porque fui reduzindo a quantidade. Posso dizer que foi uma das maiores conquistas da minha vida”, diz.
Farto de Quadrinhos
“O Grifo de Abdera” mistura prosa e história em quadrinhos. A narrativa é escrita principalmente em prosa, mas dentro do livro estão reproduzidas HQs escritas pelo personagem Oliver.
Lourenço Mutarelli, Cia das Letras, 272 pp. R$44. Romance e HQ. Tarde de autógrafos e bate papo com o jornalista Yuri Al’Hanati neste sábado (17) na Itiban Comic Shop (Av. Silva Jardim, 845, centro) às 17h.
Mutarelli explica que todo o livro surgiu desses quadrinhos. “Essa HQ era uma experimentação. Meu objetivo era chegar ao texto a partir desse trabalho e foi o que aconteceu”, disse.
O autor afirma que não quer mais fazer parte do “meio dos quadrinhos”. “Continuo desenhando quadrinhos experimentais. Mas não quero mesmo mais fazer parte desse meio. Meu público é partido. Quem lê quadrinhos não lê literatura. E vice-versa. Colocar os quadrinhos no romance é uma maneira de fazer os leitores engolirem isso”, diz.
Se Mutarelli se reconhece cada vez mais longe das HQs, sua obra está cada vez mais próxima do cinema. Seja como ator ou em adaptações de livros como “O Cheiro do Ralo” (de Heitor Dhalia).
A próxima obra do escritor a ganhar as telas é o romance “Jesus Kid”, adaptado para o cinema com roteiro e direção do curitibano Aly Muritiba, já em fase de pré-produção.