O escritor português Gonçalo M. Tavares, uma das principais atrações do Festival Litercultura, encantou o público presente no Palácio Garibaldi, centro histórico de Curitiba, no início da tarde deste sábado (17). Em uma fala de aproximadamente uma hora, Tavares discorreu sobre seu método de trabalho e sobre a importância da noção de tempo para a literatura. A retórica do autor de 43 anos lembra muito seu texto escrito, rico em fantasias e digressões. Também se destacou pela quantidade de referências, algumas delas engraçadas, que foram do filósofo Ludwig Wittgenstein ao cineasta Alfred Hitchcock.
Tavares começou defendendo que os escritores procurem se situar no momento histórico em que se encontram. Para isso, é necessário compreender os antecessores e tentar prognosticar os caminhos vindouros da arte. Ele ilustrou a análise com uma parábola sobre carroças que jogavam uma maçã à beira da estrada para sinalizar uma mudança na direção tomada. "Os que vinham depois sabiam onde e quando a carroça da frente tinha virado, pelo estado de podridão da maçã. É preciso saber ler os sinais da geração anterior", disse.
O escritor defendeu que a literatura não deve buscar emoções imediatas, comparando essa forma de arte com programas de televisão que exploram o drama e, minutos depois, passam a um momento de descontração. "A surpresa é a emoção mais rápida possível. Aquilo que é surpreendente, depois de um segundo, já não é", afirmou. "Prefiro buscar algo que possa impactar o leitor dali a anos."
Autor prolífico, com 32 obras publicadas em pouco mais de uma década de carreira, Tavares revelou que escreve isolado das outras pessoas, sem acesso a internet ou telefone. Bate o texto de forma contínua, sem atentar para revisão, ao longo de quatro ou cinco horas. Porém deixa os textos na gaveta durante alguns anos antes de enviá-los para publicação. "Aquilo que você acaba de fazer, considera a melhor coisa do mundo. Depois o senso crítico começa a aparecer", justifica.
Programação
O Litercultura, que acontece desde sexta (16) em Curitiba, entra neste domingo em seu último dia. Confira a programação:
10h FilmesCinematecaAntologia de filmesO Poeta do Castelo (direção e roteiro: Joaquim Pedro de Andrade), Assaltaram a Gramática (direção: Ana Maria Magalhães), Soneto do desmantelo blue (direção: Cláudio Assis), Patativa (direção: Ítalo Maia), O dono da pena (direção: Cláudia Nunes), Caramujo-Flor (direção: Joel Pizzini)
10h Contação de históriaClube do xadrez (Galeria Júlio Moreira)Histórias enxadrístricas por Dilma Martins e Lúcia Sartori
14h FilmeCinematecaSão BernardoBaseado no romance de Graciliano Ramos, com trilha sonora de Caetano Veloso.Direção: Leon Hirszman. Elenco: Othon Bastos, Isabel Ribeiro, Vanda Lacerda.Classificação 10 anos
15h ShowConservatório MPBHomenagem ao centenário do poeta e músico Vinicius de Moraes com apresentação do quinteto de músicos Luis Otávio Almeida (violão/arranjo e direção musical), Ana Cascado (voz), Davi Sartori (piano), Sandro Guaraná (baixo) e Graciliano Zambonim (bateria)
16h SÉTIMA SESSÃOPalacete Sociedade GaribaldiSidney Rocha e Luís Henrique Pellanda, com mediação de Rogério PereiraRomance, conto e crônica: uma releitura dos gêneros e transgêneros da literatura
17h30 OITAVA SESSÃOPalacete Sociedade GaribaldiKathrin Rosenfield, Lawrence Flores Pereira e Christian Schwartz com mediação de Mário HélioShakespeare e outros mestres, como traduzir e inovar, respeitando a excelência da poesia e da prosa originais
19h30 NONA SESSÃOPalacete Sociedade GaribaldiJosé Paulo Cavalcanti Filho e Silio Boccanera leem Fernando Pessoa
20h30 SHOW DE ENCERRAMENTOPalacete Sociedade GaribaldiChico CésarCantáteis Cantos Elegíacos de Amizade