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Ele virou nome de planeta, batizou uma das filhas de "Moon Unit" (unidade lunar), foi candidato à Presidência dos Estados Unidos e ainda gravou mais de 60 discos nesse meio-tempo. Se tem uma coisa que o músico Frank Zappa conseguiu fazer ao longo de 25 anos de carreira foi barulho – de todas espécies.

Morto há 13 anos, ele ganha agora uma homenagem brasileira com irreverência à altura de sua personalidade. "Zappa – Detritos cósmicos", lançado pela Conrad, reúne crônicas, memórias, fragmentos, caricaturas e até história em quadrinhos assinados por 38 colaboradores sob a batuta do jornalista Fábio Massari.

Autor de outros dois livros – "Rumo à estação Islândia" e "Emissões noturnas" – Massari conta que a idéia surgiu em 1991, ano em que foi a Baltimore entrevistar o bigodudo em seu habitat natural. "Decidi que se fizesse alguma coisa ia ser nessa linha de almanaque em várias vozes, algumas mãos e alguns cérebros intactos", conta. "A lista foi crescendo ao longo do tempo, mas quando fui encarar a parada, há um ano e meio, mais ou menos, elaborei uma lista de camaradas invariavelmente com alguma historinha zappiana no currículo. Sabia que iam sair histórias diferentes, mas a idéia era essa mesmo, um bate-papo coletivo."

Entre os "caras do traço", como Massari diz, estão cartunistas como Angeli, Caco Galhardo e Allan Sieber. Já entre os "profissionais do texto" figuram o dramaturgo e roteirista Fernando Bonassi e o poeta e escritor Ademir Assunção. Pitty, Evandro Mesquita e Wado, entre muitos outros, engrossam o coro dos músicos cujas vidas mudaram por causa do som de Zappa. "Ninguém foi vetado. Isso seria contra os princípios zappianos", conta Massari. "O Zappa não gostava muito dessas coisas. Não teve nada de negativo, só diversão. Qualquer problema vai ter quem se responsabilize", brinca.

Entre um texto e outro – incluindo entrevistas com o músico, artigos de revistas e jornais e uma "Zappagrafia" – há histórias saborosíssimas sobre o maluco que influenciou uma geração de artistas. "A contribuição do Zappa é muito pela atitude e o modo como ele se portava com relação às corporações. Isso vai passando e a música é o mais importante. Ele é um daqueles quase inigualáveis", comenta o organizador da obra.

Se estivesse vivo hoje, Zappa certamente enfrentaria desafios com a cultura do download. "Ele nunca gostou de pirataria e curiosamente foi um dos caras muito pirateados. Em determinado momento, ele chamou especialistas e perguntou quais eram seus 15 piratas mais famosos. E aí ele relançou esses discos em caráter oficial, aproveitando a capa do pirata, e melhorando a qualidade. Mas ele se deu mal porque os colecionadores passaram a querer esses piratas oficiais, mas os originais passaram a valer mais dinheiro ainda. O tiro saiu pela culatra", conta.

"Vale lembrar que essa pirataria da qual falamos não é exatamente aquela do clone de um produto já existente, os bootlegs que a gente está falando são registros de shows, ensaios. Tinha bandas tipo Grateful Dead que autorizavam os fãs a promover esse tipo de pirataria. Havia um espaço reservado nos shows para que os fãs fossem lá e gravassem. Mas o Zappa não compactuava, ele dizia que gastava muito dinheiro com equipamento, pagando os músicos, ensaiando e achava o fim do mundo que alguém faturasse o que quer que fosse em cima dele."

Massari lamenta o fato de Zappa ter perdido o advento da internet. "Ele tinha um fascínio pela ‘CNN’ e pelos canais de notícias, passava a madrugada inteira assistindo a várias coisas, isso no comecinho dos anos 90. É realmente uma pena que ele tenha perdido essa revolução de agora. Não sei exatamente como ele estaria lidando com esse negócio de download. Certamente ele teria vislumbrado algum tipo de solução, estaria aproveitando de maneira positiva."

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