É como debater política, sugerir um filme ou comentar um livro com os amigos. Os loucos por psicotrópicos não têm vergonha de se assumirem "tarjas pretas" e de trocar idéias sobre as últimas novidades em antidepressivos e estimulantes. Sem culpa de se revelarem dependentes ou testemunhas oculares dessa onda, sete escritores foram reunidos pela editora Objetiva a fim de criar personagens um pouco fora do normal e cujo único elo são as ondas químicas. "Tarja preta" surgiu de uma conversa entre "tarjas", claro, que viram nos remédios de uso restrito assunto para livro. E por que não?

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Um dos personagens, por exemplo, não usa nomes de jogadores em seu futebol de botões tamanho o fanatismo por remédios e drogas, lícitas ou não. A primeira formação de seu time, ainda na infância, era composta por Vick, Colubiasol, Rícino, Lactopurga e Genciano. Até chegar ao "futebol de verdade" com Optalidon, o Dondon. Depois de internado e acreditando que "as coisas estão aí para melhorar", ele resolve colocar de atacante o Floral.

- Continua valendo a máxima de Hipócrates de que tudo é veneno, dependendo da dose - brinca Pedro Bial, que não é usuário de psicotrópicos e estréia na ficção com o conto "Dondon experiência", no qual os "astros" acima brilham no time Tarja Preta Futebol Clube. Já Adriana Falcão poderia ser a presidente desse estranho clube. Assume ser "tarja" e revela ter perdido a mãe depois de uma overdose de remédios, além do pai, que tomava antidepressivos e acabou se matando em 1978. Mas a autora do conto "Serial killer" é outra a trazer humor para um assunto delicado.

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- Ontem mesmo cheguei em Minas Gerais, tive uma leve crise de pânico por estar sozinha e tomei um remédio. É que eu não queria mais eu e eu só tinha eu - diz Adriana, que agradece o avanço da medicina. - Se tivesse antidepressivos como os de hoje, meu pai talvez não tivesse se matado.

No conto de Adriana uma mulher conversa com seu próprio cérebro em um diálogo hilário. "Lá se foi outro neurônio. Menos um. Quem manda?".