Uma banda barulhenta, pesada, adepta da dissonância e da experimentação, com letras em inglês e raízes no punk e no metal. "Viril", como definiria por telefone o guitarrista, vocalista e principal compositor do grupo, Cassiano Fagundes hoje se alternando entre a carreira solo e as bandas Cassim & Barbária e Bad Folks.
Assim era o Magog, uma das mais bem-sucedidas formações da cena roqueira que floresceu na Curitiba dos anos 90, que incluía nomes como Boi Mamão, Resist Control, Woyzeck, Pinheads, Relespública, Julie et Joe e CMU Down, entre outros e era tão fértil que levou a antiga revista Bizz a apelidar a capital paranaense de "Seattle brasileira". Pois o Magog está de volta: dez anos depois da última apresentação "formal" (a banda se dissolveu em 1998, mas se reuniu para tocar no festival Rock de Inverno, no 92 Graus, em 2002), o grupo volta ao palco do novo 92 na Av. Manoel Ribas, 108 nesta sexta, a partir das 22 horas, para comemorar os 20 anos dos seus primeiros registros fonográficos e do próprio bar.
"Vai ser uma reunião de amigos, de quem era fã e de um monte de gente da época", resumiu Cassiano. "Vamos tocar o repertório que a última formação tocava, chamar algumas pessoas que tocaram com a gente para o bis e ainda ter participações especiais de amigos como o Abonico [Smith, jornalista], o Fábio Elias e o Caio Marques." A formação-base será um power trio: Cassiano na guitarra e voz, Jansen Botana Nunes no baixo e Raphael Virmond na bateria.
A banda fundada em 1989 por Cassiano e Jansen foi uma das que chegaram mais longe daquela geração: além de ter sido destaque em festivais independentes Brasil afora (incluindo o lendário Juntatribo, em Campinas), assinou com a Banguela Records, o selo dos Titãs, foi produzida por Carlos Eduardo Miranda e chegou a receber elogios de Jack Endino, o icônico produtor da Sub Pop que trabalhou com bandas como Nirvana, Mudhoney e Soundgarden. Numa entrevista concedida à mesma revista Bizz em 1993, quando produzia o disco Titanomaquia, dos Titãs, Endino classificou o Magog como "heavy metal de verdade".
"Na época ficamos um pouco incomodados, porque não queríamos ser tachados de heavy metal", lembra Cassiano. "Claro que eu fui extremamente influenciado por Black Sabbath, Ozzy e Motörhead, mas não éramos uma banda de metal; às vezes a gente lembrava metal, e às vezes The Cure! Mas acho que 80% dessa declaração do Jack Endino a gente deve ao Puga [o guitarrista Anderson "Puga" Cavassim]. Enquanto ele esteve na banda, tivemos mesmo um certo direcionamento ao metal. Mas a gente começou tocando country psicodélico, tipo Buffalo Springfield!"
O Magog morreu de inanição em 1998, quando Cassiano foi morar nos Estados Unidos. "Eu até tinha entrado em contato com um selo de lá, a Gold Rush Records, íamos gravar um EP, mas começou a demorar demais, o selo mudou de nome e a coisa meio que morreu", conta. "Quando eu voltei, queria fazer outro som, e acabei montando o Bad Folks." Mesmo assim, Cassiano se sente orgulhoso quando olha para trás: "As músicas estão muito atuais, e eu não sinto vergonha de tocá-las hoje. O que já é uma prova de que são boas... Fun mesmo, que eu estava escutando agora: está ótima, poderia perfeitamente ser de uma banda de hoje em dia. Acho que fizemos um bom trabalho, pena que não tivemos o alcance que gostaríamos".
Cassiano se mostra tão satisfeito, que inclusive não descarta a possibilidade de reativar definitivamente o Magog: "Vamos ver o que acontece depois desse show de hoje. Já tivemos um convite para tocar em Joinville, mas cada integrante também tem uma carreira diferente, alguns têm filhos... vamos ver se vale a pena, se vamos ter tempo... mas, provavelmente, depois do show vamos querer voltar sim".
Ele vai além: "Acho que eu poderia voltar a compor pro Magog. Já fizemos algumas experiências durante os ensaios, meio sem querer, e parecia bom. Eu ainda tenho uma necessidade de fazer barulho, e acho que ela poderia ser suprida com o Magog...".
Para conhecer (ou relembrar) o som do Magog, acesse o perfil da banda na Trama Virtual.
ServiçoShow Magog 20 anos. Sexta-feira, dia 4, a partir das 22 horas, no 92 Graus The Underground Pub (Av. Manoel Ribas, 108). Ingressos a R$ 10.