Magrão é só folclore ou as correntes fazem barulho?

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Sete dias e seis noites numa barraca. Nada de edição extra do Psicodália, era Magrão causando novamente.

O empresário e produtor cultural acorrentou-se a um corrimão de ferro que acompanha a rampa da entrada principal da prefeitura de Curitiba.

A bronca desta vez foi contra a cobrança de um imposto sobre os ingressos de cortesia para shows organizados na cidade. “Desta vez” porque Arlindo Ventura já tinha aprontado em 2012, quando se agrilhoou em frente ao Banco do Brasil para reclamar de R$ 1.355 que haviam sumido de sua conta não se sabe como. É seu jeito.

Na tarde ensolarada da última segunda-feira (21), um pé inchado, sujo e acorrentado descambava para fora da barraca azul, plantada num pequeno desnível sobre a grama bem aparada do jardim da prefeitura.

Metade para dentro, metade para fora, Magrão transcrevia para o WhatsApp em seu celular touch screen uma carta dedicada à prima Márcia, filha de um tio que havia falecido recentemente: “O desaparecimento do tio Joaquim me deixou numa tristeza só. Nem preciso dizer a imensa dívida de gratidão que tenho para com ele. (...) Conte comigo, por favor, em todas as horas. Um abraço afetuoso e comovido do seu primo Arlindo.”

O dono do Torto estava sentado sobre um colchão de ar meia bomba. Desligou o rádio de pilha para conversar com o repórter. Ouvia a CBN. Caçava a repercussão do que estava aprontando. “A gente se sente aprisionado na área cultural”, explicou, antes de oferecer um banquinho de madeira. Popular, Magrão recebeu muitas visitas de amigos e clientes do bar, de quem ganhou caldo de feijão, um sanduíche no estilo tostex e litros de água de côco de caixinha. Mas não só. João Luiz Fiani, secretário estadual da Cultura, passou por lá; Monica Rischbieter, diretora do Teatro Guaíra, deu um cheiro. “Não sou inimigo do Gustavo [Fruet], sou a favor da cultura. Quer um pouco?”, perguntou Magrão, oferecendo um gole de suco de laranja do dia anterior.

A barraca quase foi pelos ares por causa da chuva daqueles dias, mas o duro foi ficar sem chuveiro. Magrão tinha uma muda de roupa e não trocou a cueca por quase uma semana. “Amo Curitiba. Faço isso pela cidade”, argumentou. Fazia xixi num galão de plástico, escondido no cantinho da barraca. A escova e a pasta de dentes estavam embrulhadas numa sacolinha de mercado. O número dois acontecia no banheiro da prefeitura -- nada simbólico, garante.

Um carro buzina, e o motorista acena para o homem da barraca. “Tá precisando de alguma coooooooisa?”, grita um rapaz de boné. A popularidade que Magrão tem – diversos partidos lhe ofereceram candidatura a vereador – joga a favor em casos como este, apesar de o empresário estar perto de se tornar um personagem folclórico, simplesmente. Afinal, é um homem acorrentado dormindo numa barraca no Centro Cívico. “Não tenho medo de virar piada”, avisa. “Quem pensa isso de mim está pecando.”