Convocação| Foto:

Sabe aquelas pessoas que, com a Bíblia debaixo do braço, propagam suas citações e teimam em querer salvar a humanidade na tentativa de ganhar pontos com o chefão lá de cima? Mal sabem elas que suas "boas intenções" já lotaram a casa do Cramulhão. Sob a venda da "bondade", do "amor ao próximo" e, principalmente, de seu narcísico egoísmo que não as deixa enxergar, não hesitam em transformar as vidas das pessoas ao seu redor num verdadeiro inferno na Terra. É o que faz Laura (Laura Linney) com o filho Ben (Rupert Grin, o Ron Weasley, o amigo ruivinho de Harry Potter), e seu marido, o padre Robert (Nicholas Farrell) no filme britânico "Lições de vida", de Jeremy Brock, roteirista do premiado "O último rei da Escócia".Em "Lições de vida" ("Driving lessons", no original), Laura é uma mãe extremamente carola, possessiva e dominadora. Faz tudo em nome de Deus e por Ele, na esperança de ser agraciada com um lugar ao Seu lado quando a hora chegar, além de ser a principal responsável por fazer da existência do filho uma excursão permanente no "Sétimo Círculo do Inferno".

CARREGANDO :)

Ben, de 17 anos, sensível e "com alma de poeta", passa pela fase na qual os hormônios estão em total ebulição. Ele toma aulas de direção (as tais "lições" do título original) com sua mãe, e participa de todas as atividades religiosas possíveis, sempre batendo ponto na igreja, entoando cânticos religiosos, rezando e procurando fazer o bem. Sem consultar sua família, Laura, "boa cristã" que é, dá abrigo a um senhor, Fincham (Jim Norton), e "pede" para que o filho arranje um emprego para que possa ajudar o hóspede entregando a ele parte de seu modesto salário. Respondendo a um anúncio de uma velha atriz, Ben vai trabalhar para Evie Walton (Julie Walters). E, aí, o filme começa.

O choque entre as duas realidades, mesmo não sendo um primor no quesito originalidade, é bastante eficiente no sentido de envolver o espectador. Lembrando em alguns momentos "Ensina-me a viver" ("Harold and Maude", de 1971, no qual um garoto obcecado pela morte tem um caso de amor com uma velhinha apaixonada pela vida), o filme é uma obra de dois atores na qual Julie Walters e Rupert Grin funcionam (juntos) que é uma beleza. Seus personagens, Evie e Ben, metem o pé na estrada e caem no road movie, enquanto vão gradativamente desenvolvendo uma saborosa simbiose, de fundamental importância para ambos, que terá conseqüências, perdas e ganhos.

Publicidade

Com uma direção segura do estreante Jeremy Brock, que explora o entrosamento da dupla, "Lições de vida" decola até atingir seu apogeu na maravilhosa cena roubada por Evie que, tal qual uma anfetaminizada Norma Desmond (imortalizada em 1950 por Gloria Swanson, no clássico "Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder), salva Ben das garras de sua mãe. E de Cristo.

A química entre os dois é fruto dos 3 filmes em que atuaram juntos interpretando mãe e filho ("Harry Potter e a Pedra Filosofal", "Harry Potter e a Câmara Secreta" e "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban"). Julie não participou do quarto, "Harry Potter e o Cálice de Fogo", mas ambos voltaram a se encontrar no quinto, "Harry Potter e a Ordem da Fênix", previsto para estrear no Brasil em 13 de julho. O sexto filme da série, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", está atualmente em pré-produção, com previsão de estréia para 21 de novembro do ano que vem.

Sem dúvida, uma das razões do êxito de "Lições de vida" é que o melhor amigo do mago mais famoso do mundo cresceu. Ele faz com que se aguarde com ansiedade Daniel Radcliffe (Harry Potter) e Emma Watson (Hermione Granger) em outros filmes que não os da famosa série. Daniel está em "December boys", drama previsto para estrear nos Estados Unidos em 14 de setembro, sob direção de Rod Hardy (veterano de séries de TV, como "O prisioneiro", "Missão impossível", "Arquivo X").

Quanto a Emma, ainda não há nenhuma previsão neste sentido. A única coisa que se sabe é que Rupert Grin veio para ficar. Perfeito no filme, ele é esplendidamente "assessorado" por Julie Walters, cuja personagem, mentirosa e manipuladora, é o tempero agridoce que, efetivamente, o "ensina a dirigir", possibilitando o vôo de Ben rumo à liberdade. E o vôo de Rupert, à maturidade.

Por enquanto, "Lições de Vida" entrou em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro.

Publicidade