O escritor Milton Hatoum não tem pressa e é desconfiado. Para escrever, a pressa diminui mais ainda. "A literatura é o oposto da urgência. Como não tenho data para publicar vou amadurecendo o texto", comentou Hatoum em entrevista por telefone de sua casa em São Paulo. É desta forma que ele justifica a demora em publicar seus romances. Até agora são três: "Relato de um Certo Oriente" (1989), "Dois Irmãos" (2000), os dois ganhadores do Prêmio Jabuti de melhor romance e publicados em oito países e "Cinzas do Norte", lançado este ano. Nesta sexta-feira (21) o autor conversa com o público curitibano sobre seu novo trabalho na Megastore da Livrarias Curitiba, no Shopping Estação.
O escritor, que já tem outros textos prontos, entre contos e uma novela, reconhece que deixa os textos "gritando" na gaveta para serem publicados. "Eu abro a gaveta, eles gritam e eu fecho. O texto pede essa releitura antes de ser publicado. É um trabalho de anos e eu tenho essa obsessão. Mas isso é uma auto-exigência minha, depende de cada escritor. Não quero morder a isca do mercado e publicar qualquer coisa", disse o desconfiado Hatoum.
O público também contribui para a demora nas publicações. "Tenho um compromisso com os meus leitores, que não são leitores de best-sellers, são bons leitores, exigentes, com repertório. Os de Curitiba mandam mensagens, mantém contatos, espero vê-los neste encontro", comentou.
Seus livros têm em comum o fato de estarem ambientados em Manaus, no Amazonas, proporcionando ao leitor uma viagem à região.
O autor
Com formação em arquitetura, Hatoum foi professor de Literatura Francesa na Universidade Federal de Amazonas e desde jovem tinha o desejo de escrever, mas não acreditava que um dia iria publicar uma obra. Até que saiu "O Relato de um Certo Oriente", em 1989, depois de anos amadurecendo. "É necessário um tempo para escrever. Precisa de formação, ter leituras e absorver a leitura. Aos poucos fui me aproximando do meu objeto de desejo, que era escrever", contou.
O escritor diz que seu processo de criação começa com um esboço geral do que quer, os conflitos que pretende abordar, as personagens. Daí escreve o começo e o fim, e depois vai escrevendo. "Esse escrever que é difícil, eu sou desconfiado e estou sempre reescrevendo", sintetiza Hatoum.
Em 2006, ele deve publicar um livro sobre mitos do Amazonas, numa coleção inglesa sobre o tema. São 20 escritores do mundo que foram convidados a escrever para esta coleção e Hatoum é o autor brasileiro que vai participar desta coletânea.
Sucesso
O romance "Dois Irmãos" teve mais de 30 mil exemplares vendidos e está sendo roteirizado para virar filme. "Sei que o roteiro deve ficar pronto no início do ano que vem, mas não quero me envolver. Não vou me meter em nada. É outra coisa. Têm diretores interessados, mas ainda não está nada certo. Mas é claro, um filme dá a possibilidade de ampliar o mercado, atingir novos leitores", afirmou.
Entre os escritores da atualidade Hatoum destaca a obra de Salman Rushdie e da inglesa Antonia Byatt. Na literatura brasileira, lugar especial para Machado de Assis. "Um gênio. Me inspirei em 'Esaú e Jacó' para escrever 'Dois Irmãos' e Guimarães Rosa, o mais inventivo. Mas temos outros escritores de qualidade, gosto muito de "Macunaíma', de Mário de Andrade", finalizou Hatoum.
O livro "Cinzas do Norte", publicação da Companhia das Letras, com 312 páginas, pode ser encontrado nas livrarias com o preço médio de R$ 39,00.
Serviço: Bate-papo com Milton Hatoum. Sexta-feira (21) às 19 horas na Megastore da Livrarias Curitiba (Shopping Estação) Entrada franca.
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