O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos morreu na manhã desta quarta (9), aos 71 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória, segundo informou o Hospital Unimed III, no Recife, onde ele estava internado por complicações de um câncer no pulmão. O velório está marcado para as 14h, na Assembleia Legislativa de Pernambuco e o enterro será nesta quinta (10), a partir das 10h, no cemitério de Santo Amaro, área central do Recife.
Naná foi socorrido depois que passou mal após um show realizado em Salvador, no domingo (28), com o violoncelista Lui Coimbra. Ele estava internado desde o último dia 29 e apresentava infecção respiratória e arritmia cardíaca, além de uma progressão do tumor.
Há meses, o percussionista tratava um câncer de pulmão, descoberto em agosto do ano passado. Em janeiro deste ano ele encerrou, junto com o violonista Yamandu Costa, a 34ª edição da Oficina de Música de Curitiba, em uma apresentação com ingressos esgotados no Teatro Guaíra.
Músico consagrado, Juvenal de Holanda Vasconcelos nasceu no Recife, em 1944, mas começou sua carreira quando se mudou para o Rio de Janeiro para trabalhar com Milton Nascimento, com quem gravou dois LPs, na década de 1960.
“Nós fomos os pioneiros”
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Em 1970, quando Gato Barbieri, saxofonista argentino, o convidou para fazer parte do seu grupo, o percussionista começou uma longa carreira internacional. Com ele, o brasileiro se apresentou em festivais nos Estados Unidos e na Europa.
Acabada a turnê, Naná foi morar em Paris, onde em 1971 gravou “Africadeus”, seu primeiro trabalho.
Em 1972, gravou “Amazonas” e deu início a uma parceria com Egberto Gismonti, que durou oito anos e três álbuns: “Danças das Cabeças”, “Sol do Meio-Dia” e “Duas Vozes”.
Uma apresentação sobrenatural
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A partir daí, foi para Nova York, formou o grupo Codona com Don Cherry e Colin Walcott, gravou com B.B. King, Talking Heads e Jean-Luc Ponty e fez turnê com o guitarrista Pat Matheny.
Nos anos 1980, fez experiências com instrumentos eletrônicos, que renderam os álbuns “Bush Dance” e “Rain Dance”.
Nessa época, passou a ser ainda mais presente no cenário musical brasileiro, gravando com nomes como Caetano Veloso, Mundo Livre S/A e Marisa Monte.
Naná ainda idealizou projetos como o ABC das Artes Flor do Mangue, que trabalha com crianças carentes.
O pernambucano foi eleito oito vezes melhor percussionista do mundo e venceu oito prêmios Grammy. Ele tinha entre seus fãs o cineasta italiano Bernardo Bertolucci.
O apelido Naná foi dado pela mãe, Petronila, quando ainda moravam juntos no bairro Sítio Novo, em Olinda. DIz-se que ela foi “encurtando de Juvenár” - primeiro nome do percussionista- até chegar em Naná.
No Recife, há 15 anos, ele era responsável por abrir o Carnaval da capital pernambucana, regendo mais de 400 batuqueiros de maracatu. Os grupos de maracatu nação ou maracatu de baque virado são formados por músicos e dançarinos que vivem na periferia da região metropolitana do Recife.
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Leia a matéria completaLigadas às religiões de matriz africana, em especial o candomblé, os grupos usam símbolos, cânticos, danças, indumentárias e adereços em homenagem aos orixás e outras entidades. Durante os dias de folia, eles ganham a programação da festa, incluindo o principal palco: a Praça do Marco Zero.
“Estar no palco mais importante do Carnaval do Recife tem alavancado os grupos. Não é fácil manter um maracatu, mas, graças a Naná, a cada ano temos ganhado mais apoio e sendo mais valorizados”, afirmou Jailson Viana Chacon, 46, conhecido como mestre Chacon do Maracatu Nação Porto Rico -a entrevista foi dada antes da notícia da morte do percussionista.
Um mês antes do Carnaval, Naná iniciava os ensaios com as 11 nações de maracatu. Os encontros acontecem nas sedes dos grupos, e, na semana anterior à folia, no bairro do Recife Antigo.
Mesmo com câncer, ele participou da abertura do Carnaval da capital pernambucana deste ano com seus 400 batuqueiros.
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