“Metrópolis”, um filme mudo alemão de 1927, cuja trilha sonora composta por Gottfried Huppertz (1887-1937) foi executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica do Paraná, lotou o Teatro Guaíra na manhã do último domingo (5). Os ingressos para os 2.167 lugares se esgotaram dois dias antes. Culpa de um público sortido que se misturou àqueles que costumeiramente vão ao Guaíra ouvir música clássica antes do estrogonofe de domingo. A comoção foi geral.
A versão do épico científico de Fritz Lang exibida tem 2 horas e 33 minutos (foi descoberta na Argentina, em 2008). No palco, mais de cem músicos sob a regência do jovem maestro alemão Stefan Geiger tocaram quase que incessantemente – houve um intervalo de 15 minutos para o cafezinho. Não era exatamente um programa pop.
Para a professora Giselle Corrêa, a explicação está no conjunto da obra. “O filme é fantástico pelo que representa para o cinema. E, com a música ao vivo, foi uma experiência sui generis.”
O tempo de ensaio, no total, foi de 15 horas. Além da técnica exigida – a trilha tem muitas variações de andamento –, a sincronização com o filme era essencial. “O maestro estava com tudo ‘dominado’. A orquestra demonstrou-se extremamente estruturada”, diz Zeca Neto, vice-presidente da Associação de Músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná (Amosp). Entre foxtrotes (durante as cenas oníricas do bordel) e citações à “Marselhesa” (que complementava a ideia de luta entre classes, presente em todo o filme), Stefan Geiger trabalhou com mais de 400 páginas de partituras, com guias que o ajudavam a sincronizar a música com o que era exibido no telão – em alemão, com legendas em inglês e português.
Mais trilhas
Após o sucesso de “Metrópolis”, a Orquestra Sinfônica do Paraná quer promover outras apresentações de trilhas sonoras ao vivo. Mas só em 2016, e ainda sem filme definido. Para o concerto do próximo domingo (11), entretanto, a OSP, sob a regência de Alexandre Brasolin, irá apresentar temas de cantigas de roda. O concerto começa às 10 horas e faz parte do Festival de Bonecos de Curitiba, que segue até o dia 19 deste mês. Ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia).
O vizinho do flautista Fabricio Ribeiro sabe que ele toca todo domingo no Guaíra, mas nunca dá as caras. Para “Metrópolis”, pediu encarecidamente um ingresso ao músico. “Foi muito legal. Essa inter-relação entre artes é uma experiência interessante que enriquece a todos e fomenta novo público”, diz Ribeiro.
Devido à duração do filme, a execução da trilha é fisicamente extenuante, principalmente para quem toca corda e sopro. Mas a satisfação do público é o contraponto. “Foi uma semana de trabalho intenso, e o resultado valeu muito a pena”, comemora o flautista. “É para isso que a gente trabalha.”
Um dos destaques do concerto foi a participação do percussionista Vinicius Portes da Cruz, de 23 anos. O estudante da Escola de Música e Belas Artes tocou gongo, caixa e prato sinfônico (aqueles pratos comuns em bandas marciais, em que um bate no outro no ar). Foi este o instrumento utilizado para fazer a sonoplastia da foice da Morte, um dos “personagens” do filme de Fritz Lang. “Tinha que me deslocar do lugar onde estava para poder assistir ao filme e tocar no momento exato”, lembra. “A grande dificuldade para nós foi a concentração ininterrupta. Foi cansativo por causa disso”, diz Cruz.
Foi interessante notar que, apesar de todo o esforço despendido pela orquestra, por vezes parecia que a trilha sonora era gravada, e não executada ao vivo.
É quando a perfeição passa desapercebida.
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