É uma caixa com quatro CDs. As 40 músicas merecem ser ouvidas muitas e muitas vezes, claro, mas basta escutar uma única vez a faixa seis do primeiro álbum. Em pouco mais de seis minutos, a versão de “‘Round Midnight” exibe a incontestável genialidade de Miles Davis (1926-1991).
O solo que o trompetista americano tocou nessa gravação foi o assunto daquele dia 17 de julho de 1955 em Newport, cidade do nordeste americano que abrigava então a segunda edição de seu até hoje badalado festival de jazz.
Miles, então com 29 anos, já tinha ajudado nos anos anteriores a consolidar o bebop e a criar o cool jazz. A partir dali, continuaria a gravar discos incríveis que formatariam outros subgêneros do jazz, como hard bop e fusion.
Aquela foi a primeira aparição do músico no festival. A caixa “Miles Davis at Newport: 1955-1975 – The Bootleg Series Vol. 4” reúne as gravações de suas participações no evento. Difícil considerar um lançamento fonográfico mais importante do que este em 2015.
A qualidade de áudio é desequilibrada. Algumas músicas aparecem apenas em gravações de coleções particulares de organizadores do festival. Mas formam um documento precioso, valorizado por fotos e ótimos textos do livro que acompanha o box.
CD
Miles Davis. Gravadora: Sony Music. Preço médio: R$ 136 (quatro CDs).
São seis registros nos Estados Unidos: 1955, 1958, 1966, 1967, 1969 e 1975 (este último em Nova York, que ganhou uma edição do festival a partir de 1972). Estão incluídas também duas apresentações de Miles em edições do evento montadas na Europa: em 1971, na cidade de Dietikon, na Suíça, e em 1973, em Berlim, na Alemanha.
Miles sempre produziu um som claro e absolutamente pessoal. Apesar de não rivalizar tecnicamente com alguns músicos celebrados do jazz, forjou estilos completos para comportar todas as suas ideias inovadoras.
Além de ser figura fundamental em todos os desenvolvimentos do jazz entre os anos 1940 e 1980, Miles atravessou sua carreira reunindo em seus grupos de acompanhantes nomes que se tornariam companheiros dele nas antologias dos “gigantes do gênero”.
As gravações no festival estão forradas de exemplos. Dividem o palco com ele, entre outros bambas, os saxofonistas Gerry Mulligan, John Coltrane e Wayne Shorter, os pianistas Thelonious Monk, Bill Evans, Chick Corea e Herbie Hancock, os baixistas Ron Carter e Dave Holland, e os bateristas Tony Williams e Jack DeJohnette.
Em seus grupos, Miles sempre deu espaço para que todos mostrassem seus talentos individuais. Poucos nomes na cena do jazz colecionaram tantos relatos agradecidos de colegas de palco.
A compilação permite prazerosas comparações. Por exemplo, escutar a citada versão de “‘Round Midnight” de 1955 e, em seguida, a execução da mesma música em 1967.
Na primeira apresentação, Miles tinha em sua banda Thelonious Monk, que escreveu a música em 1944. O que se escuta é uma versão belíssima, quente e agraciada com o solo monumental de Miles. Já em 1967, Herbie Hancock desestruturou tudo no piano, de um jeito mais cerebral. As duas são estupendas.
Tudo é estupendo nesses 296 minutos de música, dos quais quatro horas eram inéditas em disco até agora.
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