Gil Evans nasceu em Toronto, no Canadá, em 1912, e morreu em Cuernavaca, no México, em 1988. Foi simplesmente o mais refinado, criativo e genial arranjador do jazz moderno.
Nos anos 1950, reinou absoluto. Deixou de lado os exércitos de sopros das big bands que tornavam pesadas as sonoridades.
Em vez disso, fez combinações inusitadas de instrumentação, com trompas e tubas; inovou ao escrever arabescos brilhantes de acompanhamento dos improvisos. Foi também compositor de mão cheia. A posteridade o conhece como parceiro preferencial do trompetista Miles Davis entre 1957 e 1960, período em que fez arranjos e direção artística de ao menos quatro obras-primas: “Birth of the Cool”, “Miles Ahead”, “Porgy and Bess” e “Sketches of Spain”.
Seu retrato só agora, já no século 21, começa a ficar mais completo. Em 2009, o compositor, arranjador e produtor musical Ryan Truesdell, norte-americano de Wisconsin, nascido em 1980, apaixonou-se pela música de Evans. Ele estudou e tocou na big band de Maria Schneider, discípula direta do mestre, nos anos 2000, e foi coprodutor dos álbuns “Concerto no Jardim” (2004) e “Céu Azul” (2007).
De lá para cá, dedicou-se em tempo integral à música de Evans. Pesquisou nos arquivos do músico cujo centenário de nascimento foi comemorado em 2012. Naquele ano, lançou “The Centennial Project – Newly Discovered Works of Gil Evans” (“Projeto Centenário – Obras Recém-Descobertas de Gil Evans”).
O CD ganhou todos os prêmios disponíveis. Pudera. Ryan recriou arranjos conhecidos, mas raros, e o melhor: mostrou arranjos até então inéditos. E com um cuidado semelhante ao que os músicos clássicos têm ao praticar a música historicamente informada – dando atenção aos manuscritos, aos instrumentos, a detalhes que normalmente passam despercebidos.
Além disso, Truesdell convocou uma nova geração de grandes improvisadores, como o saxofonista Steve Wilson, o trombonista Ryan Keberle e o pianista Frank Kimbrough, entre outros.
De 2013 em diante, Ryan reuniu os 24 músicos do projeto Evans para pequenas temporadas de shows no Jazz Standard, em Manhattan. O CD lançado há pouco resultou dos shows de 2015. “Lines of Color – The Gil Evans Project Live at Jazz Standard” resgata no calor do palco seis novas pepitas inéditas de Gil Evans e cinco arranjos já conhecidos, mas igualmente matadores.
São 11 faixas antológicas. O espanto começa com dois arranjos clássicos de 1964. Em “Time of Barracudas”, ele dá um tratamento pontilhista aos sopros (a cereja são os solos magníficos do trombonista Marshall Gilkes e do safoxonista Donny McCaslin). Em “Concorde”, Gil Evans tira para dançar a viola, instrumento normalmente encontrado nos quartetos de cordas, aqui muito bem pilotada por Lois Martin. Não precisaria, mas “Avalon Town” nos lembra como Evans já era bom nos anos 1940.
Quando visita o maravilhoso “american songbook”, Evans nos leva a descobrir filigranas que jamais imaginaríamos, em arranjos inovadores para gemas como “Everything Happens to Me”, “Greensleaves”, “Just One of Those Things” e “How High the Moon”.
Ryan Truesdell e seus 24 músicos não demonstram apenas paixão pela obra de Gil Evans; combinam o tributo com improvisos de alta qualidade.
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