A cena é comum: depois de shows no Sudeste, alguma grande estrela da música internacional em turnê pelo Brasil pega um avião direto para Porto Alegre e deixa fãs curitibanos olhando para o céu e perguntando por quê.
Por seis anos, o fechamento da Pedreira Paulo Leminski foi considerado um dos culpados por Curitiba supostamente estar “fora da rota” de shows internacionais. Depois de um recomeço tímido, em ano de Copa do Mundo, as apresentações do Kiss, Ozzy Osbourne, Katy Perry e David Gilmour em 2015 pareceram ser a prova de que o espaço seria o responsável por colocar a cidade de volta no mapa.
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Com custo e capacidade maiores, estádio compete por grandes atrações com outras capitais e não tira shows do espaço mais tradicional da cidade
Leia a matéria completaO retorno forte, no entanto, não evitou que astros de passagem pelo Brasil continuassem pulando a cidade nos últimos dois anos (relembre alguns no infográfico). Nem sua desativação havia impedido que artistas de peso viessem para tocar em algum outro lugar: o Oasis veio em 2009 e tocou no Arena Expotrade, em Pinhais (embora Noel Gallagher tenha reclamado do que chamou de “palco improvisado montado em meio a um estacionamento”). Em 2010, veio o Placebo, no Curitiba Master Hall (hoje, Live Curitiba). Nos anos seguintes, teve Pearl Jam (2011, na Vila Capanema), Robert Plant (2012, no Guaíra, único show de teatro da turnê), Aerosmith e Iron Maiden (2013, no BioParque) e Guns N’ Roses (2014, na Vila Capanema), para citar os principais.
Curitiba nunca esteve fora de roteiro nenhum. A Pedreira fez falta, mas shows internacionais aconteceram.
A razão é que a Pedreira, embora importante, não determina sozinha a posição de Curitiba no cenário dos grandes shows, na opinião de produtores de shows ouvidos pela Gazeta do Povo. A passagem de uma grande atração por qualquer cidade do país além de São Paulo – e, na maioria dos casos, Rio de Janeiro – está condicionada por uma combinação de fatores que varia de acordo com cada negociação.
“Curitiba nunca saiu da rota, porque o que acontece é que não existe ‘rota’”, diz o editor de Diversão & Arte do Destak Jornal em São Paulo, José Norbeto Flesch – conhecido por antecipar atrações internacionais a caminho do Brasil por sua conta do Twitter.
Flesch lembra que é comum o público fora dos dois maiores centros do país terem essa impressão e conta que já foi procurado por repórteres de outras capitais querendo saber a mesma coisa – por que suas cidades estavam deixando de receber shows. “Depois de São Paulo e Rio de Janeiro, não tem definida qual é a terceira maior. Porto Alegre pega shows grandes, mas deixa de fazer pequenos. Belo Horizonte fica um tempo fora, depois reaparece. E são várias as razões para isso”, diz.
Confira alguns dos fatores analisados pelas produtoras e artistas antes de fechar um show em alguma cidade:
Localização
O produtor Fabio Neves explica que a quantidade de datas que grandes artistas reservam para cada país – ou até para a América Latina – é limitada, já que turnês na América do Norte ou na Ásia são mais lucrativas. As capitais brasileiras concorrem com a Cidade do México e Buenos Aires, por exemplo. E se a turnê tem apenas duas ou três datas no Brasil, a tendência é distribuí-las para atingir um público maior em cada região. “Tem certos shows que acabam não vindo por Curitiba estar perto de São Paulo”, explica.
Público
Ainda de acordo com Neves, as grandes produtoras responsáveis pela vinda dos artistas para o Brasil têm ferramentas para medir em que cidades eles têm mais potencial de público. Provavelmente é assim que se definiu, por exemplo, que em Porto Alegre David Gilmour encheria um estádio – e de fato o músico levou 40 mil pessoas à Arena do Grêmio. Em Curitiba, a avaliação foi de que os 25 mil lugares da Pedreira seriam suficientes. “Talvez Curitiba não tivesse potencial para vender mais 15 mil ingressos”, diz. Os gaúchos também mostraram sua força quando receberam os Rolling Stones: 50 mil foram ver a banda em março, no Beira-Rio.
Produção local
Artistas do primeiro escalão da música internacional podem custar muito – mais do que os produtores da cidade estão dispostos a pagar. Daí a vinda para o Brasil ser bancada pelas maiores produtoras do país – como a T4F, a Mercury ou a Move. Fabio Neves cita uma atração ainda não confirmada que deve vir ao país em 2016 com um cachê acima de US$ 1 milhão. “O produtor não vê potencial em Curitiba para pagar uma conta dessas e nem tenta trazer”, conta. Por outro lado, pela mesma razão, cidades que não costumam estar no circuito podem trazer grandes artistas por iniciativa de algum investidor local.
Escolha do artista
Às vezes, só o próprio artista pode explicar por que optou por não escolher alguma cidade – e as razões podem incluir, por exemplo, alguma experiência anterior. Neves cita o caso do Maroon 5, que voltou ao Brasil em março deste ano e desta vez não incluiu Curitiba na turnê, que passou por Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo e Rio. A proposta da produtora em Curitiba era maior do que a das praças do Nordeste, mas o agente da banda decidiu pular a cidade mesmo assim. Coisa que não acontece no Rio de Janeiro, para onde os artistas sempre querem ir – mesmo que a cidade venha apresentando desvantagens como os altos custos de hospedagem, como explica José Norberto Flesch.
Local do show
Um local preparado para receber shows e com custos mais baixos de realização também terá vantagens no plano de negócios de uma turnê de grande porte no Brasil. Neste quesito, a Pedreira Paulo Leminski é um trunfo. “Com certeza a reabertura da Pedreira é um estímulo para os shows internacionais de grande porte, devido ao que ela representa no cenário de grandes espetáculos ao ar livre. Essa é uma das razões pela qual a T4F fará o show dessa importante turnê de despedida do Black Sabbath lá”, diz o diretor artístico da T4F, Alexandre Faria. “De qualquer forma, posso garantir que, mesmo no período em que a Pedreira esteve fechada, a cidade de Curitiba nunca saiu do nosso radar”, ressalva.
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