Enedina Alves Marques foi a primeira engenheira negra do Brasil e, não por acaso, o nome citado no texto que apresentou ao público uma das principais atrações da Corrente Cultural 2015. Nem o cinza quase molhado da manhã deste domingo (8) foi capaz de encobrir os ecos que o rapper Emicida encontrou em Curitiba.
“Aqui todo dia vai ser 20 de novembro”, bradou o paulistano com braço erguido e punho fechado, em provocação à não adesão da capital paranaense ao Feriado do Dia da Consciência Negra.
Mascarado, o rapper subiu ao palco Hard Rock, na Boca Maldita, com dez minutos de atraso e um time formado por cinco músicos. O arsenal de versos de protesto funcionou em plena confluência com o público, que entre faixas e adesivos manifestava o grito “Fora, Cunha”.
Para abrir o show, a faixa “Boa Esperança” estourou os grave e as rimas saíram ruidosas pelas caixas, mas o público ajudou cantando em uníssono os reclames cirúrgicos da música (“e os camburão o que são?/ negreiros a retraficar”).
Na sequência, o som ganhou nitidez e veio “Bang!”, com arranjo predominantemente percussivo, “Gueto”, que reverencia o funk carioca, e “Hoje Cedo”, que emocionou. Todas do primeiro álbum do artista, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, lançado em 2013.
O punho se ergueu mais uma vez para lembrar que “a carne negra continua sendo a mais barata do mercado”. Foi uma citação à música “A Carne”, conhecida na voz de Elza Soares, e um prólogo para “Chapa!”, do recém-lançado disco “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”. Nessa, a banda usou instrumentos acústicos e um solo de cavaco desaguou em “Preciso Me Encontrar”, de Cartola.
De volta com os elétricos plugados, veio a sombria “Zica Vai Lá”, única faixa da mixtape “Doozicabraba e a Revolução Silenciosa” (2011) a entrar no repertório, e “Mandume”, a mais festiva do show.
“No lugar de fingir que vamos embora e voltar, vamos só ficar”. O show terminou com as músicas “Casa”, “Levanta e Anda” e sem bis. No fim, Emicida deu uma palhinha no surdo da percussão e teve tempo de dizer que “as páginas são brancas, mas a história é preta”. Enedina ficaria orgulhosa.
“Guerra” entre Mais Médicos e Médicos pelo Brasil prejudica quase 4 mil profissionais de áreas vulneráveis
STF terá Bolsonaro, bets, redes sociais, Uber e outros temas na pauta em 2025
Alcolumbre e Motta seguem cartilha dos antecessores. Assista ao Entrelinhas
PT não tem “plano B” para 2026 e sucessor de Lula será em 2030, diz líder do governo