A cantora paranaense Janaina Fellini lança em outubro o seu segundo álbum, “Casa Aberta”. O trabalho, que tem arranjos do maestro baiano Letieres Leite e produção de Beto Villares, foi um dos projetos escolhidos no programa Rumos Itaú Cultural de 2013-2014, e será lançado oficialmente em São Paulo, no dia 8. Mas terá um show de pré-lançamento em Curitiba nesta quarta-feira (30), no Dizzy Café Concerto (R. 13 de maio, 894), às 21 horas.
A prévia é uma espécie de tributo à cidade, onde Janaina, que é de Vitorino, no Sudoeste do estado, começou a carreira. “É como se estivesse pedindo uma permissão, um axé para esse lugar que recebeu esse processo por todos esses anos”, diz a artista, em entrevista à Gazeta do Povo.
No novo disco e no palco, ela é acompanhada pelos mesmos músicos que a participaram do trabalho de estreia, em 2012: Du Gomide (guitarra e viola), Glauco Sölter (baixo), Alonso Figueroa (teclados e acordeão), Sérgio Freire (saxofones) e Denis Mariano (bateria).
Em um processo de “residência artística”, que reuniu toda a equipe durante seis dias em uma chácara em Campina Grande do Sul, eles foram conduzidos por Letieres em arranjos inventivos, pontuados por surpresas (ouça o disco).
É o caso dos tempos quebrados de “É Sempre Bom Se Lembrar”, de Lucas Santtana – também um exemplo da diversidade sonora do trabalho, que pode soar com essa pegada roqueira, mas também ir para um universo interiorano ou regionalista, como em “Sol das Lavadeiras”, de Zé Manoel e Mavi Pugliesi, e “Preta”, de Lirinha. Ambas são de compositores de Pernambuco, assim como a faixa de abertura do disco, “Varanda”, de Alessandra Leão.
Outra parte do repertório vem da Bahia: Bruno Capinan e Luisão Pereira fizeram “Promessa”, talvez a faixa mais cativante do disco; e Janaina foi buscar “O Seu Amor”, uma canção de Gilberto Gil dos tempos dos Doces Bárbaros.
Não é por acaso: antes de ter o projeto escolhido no programa do Itaú Cultural, a artista tinha dado um tempo na música, que “não estava fluindo como antes”, passado o período produtivo do primeiro trabalho.
Ela passou um tempo em Aracaju, trabalhando em uma loja de prata. Na mesma época, foi à Festa de Iemanjá, em Salvador. “Pedi uma luz, para entender o que estava acontecendo e para onde poderia seguir”, conta Janaina.
Ela já se preparava para um intercâmbio fora do país quando veio a resposta do programa. Sentiu que a promessa a Iemanjá foi atendida, e a Bahia, junto com a espiritualidade, se tornou uma das forças do trabalho. “Foi uma experiência de cura de tudo o que tinha me levado a não querer mais continuar. De repente, pude ressignificar minha experiência como musicista”, diz.
Janaina ressalta, no entanto, que sua geografia não é territorial, mas de “intérprete”. “[Busco] propostas musicais contemporâneas. Ao mesmo tempo, também tem esse lado brejeiro. Não tive muito filtro do que é daqui ou de lá, mas o da afinidade, do que bateu para mim”, conta.
É assim com Itamar Assumpção (1949-2003), que volta e meia aparece nos sonhos da cantora, e que tem duas canções no disco: “Sutil”, que a Janaina interpreta numa entonação que lembra o músico, levada por um arranjo mais dançante; e “Quem”, de Itamar e Alice Ruiz, que remete à linguagem musical do compositor, mais baseada em frases melódicas das guitarras e do baixo do que em harmonias.
Dizzy Café Concerto (R. 13 de maio, 894), (41) 3527 5060. Dia 30, às 21 horas. R$15. Sujeito à lotação.
Quanto à sua própria interpretação, Janaina conta que o trabalho também foi o momento de descobrir o valor da delicadeza que traz na voz. “Queria uma coisa mais forte, mais encorpada. Mas, nesse processo todo, olhei para esta cantora e disse que tudo bem”, conta. “Foi como descobrir uma coisa nova na minha vida de cantora: estou na delicadeza, na ternura, enquanto a banda leva o resto das ideias – mais densas, complexas.”