O topo da cadeia alimentar da música (e da cultura) pop está vago. A morte de David Bowie, aos 69 anos neste domingo (10) é o fim da carreira mais brilhante e importante de um artista do século 20. E minha geração teve a sorte de assisti-lo ao vivo na Pedreira Paulo Leminski. O grande concerto da história da cidade.
O show aconteceu em outubro de 1997 e fazia parte do Close Up Festival. As bandas de abertura eram No Doubt e Erasure. Naquele ano, Bowie tinha lançado seu disco “Earthling” totalmente conectado com o melhor som eletrônico que se fazia no mundo então. Era o auge da cultura rave na Europa e Bowie fez um álbum cheio de batidas de drum’n bass, techno e industrial.
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Leia a matéria completaUm som que não tinha chegado com força no Brasil – aqui em Curitiba estávamos ainda no poperô nervoso. Na minha estupidez de adolescente não entendi o disco. O Bowie para mim era o cara dos discos do início dos anos 1970. Eu já estava montando a minha coleção de CDs comprados bimestralmente na 801 Discos. Que era mais que uma loja: o lugar onde íamos aprender sobre as coisas realmente relevantes . Lembro do Horácio de Bonis nos mostrando pela primeira vez o álbum “Low” (desde então meu preferido): “Esta é uma fase mais alemã ...”
Quando eu li na Gazeta do Povo que o Bowie iria tocar na Pedreira eu e meus amigos, colegas do cursinho em frente ao Mueller, ficamos loucos. Não podia ser verdade. Um amigo um ano mais velho tinha acabado de ganhar um carro.
Saímos de casa ainda com sol, mas, no caminho, meu amigo atropelou um ciclista. Sem saber muito bem o que fazer, levamos o sujeito até a clinica de fraturas e ficamos esperando os exames e só saímos de lá quando a família dele chegou e ficou confirmado que foi só um susto.
Chegamos na Pedreira no exato momento em que Bowie subiu no palco, de camisa mostarda com as mangas desabotoadas ( marra que eu incorporei no dia seguinte).
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Leia a matéria completaA primeira canção foi “Jean Genie”, do “Ziggy Stardust”, e do setlist lembro mais ou menos. Mas posso afirmar que ele tocou “Fashion”, “Supermen”, “All The Young Dudes”, e no bis “The Man Who Sold the World”. E terminou com o cover do Velvet Underground “White Light/ White Heat”.
Porque era o Bowie e porque éramos nós com 19 anos aquele foi o dia mais perfeito de uma juventude ainda inocente. Quer dizer, menos para o ciclista.
Era um tempo que não iria mais existir muito em breve. Quando tínhamos tempo de ouvir álbuns duplos em tardes inteiras (quem precisa da TV quando se tem David Bowie?) e numa noite quente ver de perto o nosso herói no Pilarzinho. A morte do Bowie me derrubou. Fora as pessoas que eu amo e são próximas a mim, ele era o cara mais importante. E hoje eu sei que “Earthling” era um grande álbum. RIP, Bowie.
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