Se por um lado 2015 foi o ano da retomada da Pedreira Paulo Leminski, com shows portentosos de Kiss, Ozzy, Katy Perry, Los Hermanos e David Gilmour, por outro indicou o crescimento das produções musicais de nicho em Curitiba. Saem de cena megaestruturas, artistas consagrados, público gigantesco, cerveja cara e falta de táxi, e entram intercâmbio musical, coragem, feeling, perrengues e, na maioria das vezes, prejuízo financeiro.
Uma das características dessas produções “caseiras” é o fato de serem levadas a cabo pelos próprios artistas da cidade, numa espécie de jornada dupla. Outra é a busca por atender a um público específico que não quer saber de bandas cover ou dos mesmos shows de sempre – provectos do rock nacional que batem cartão em Curitiba.
Exemplo disso foi o show do figurão canadense Mac DeMarco. Oitocentas pessoas se espremeram no Music Hall (ingressos entre R$ 80 e R$ 135). A produção foi da curitibana Zeropila, em parceria com a Balaclava, de São Paulo.
Uma das sócias da empresa de nome sugestivo é Andreza Michel, integrante das bandas Uh La La! e The Shorts. “Uma galera mais nova não tem aonde ir em Curitiba, então tentamos explorar esse nicho,” explica Andreza.
“Acho que todo produtor é meio masoquista”
No último sábado, o alemão Allie (“pop calmo”) tocou no Teatro do Paiol, em Curitiba (R$ 15 e R$ 30). Foi a última tacada do ano da Fineza Comunicação e Cultura, em parceria com a Santa Produção. Quem está à frente da coisa é Heitor Humberto, vocalista da Banda Gentileza. “Produzi oito shows no Paiol neste ano e todos deram prejuízo.”
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O Biro Biro Day Show, criado pela curitibana Trombone de Frutas, é um ecossistema completo de produção, que envolve paixão pela música e estreitamento de laços com público interessado.
A 4.ª edição , no último sábado (19), foi com Jards Macalé.
A iniciativa também busca espaços alternativos para a cultura na cidade. Nas três primeiras edições, o evento ocupou casas e quintais de Curitiba.
No começo, fazíamos tudo sem dinheiro e experiência. Dividíamos todas as atividades da produção entres nós da banda. Cada integrante era responsável por alguma coisa.
O festival Coisarada, em que tocou Mac DeMarco, foi o primeiro promovido pela Zeropila, mas a aventura na produção começou no fim de 2014. Far From Alaska, Mustache e os Apaches, Wry, The Baggios e As Mercenárias vieram a Curitiba a convite de Andreza & cia. – casa à disposição para economizar em hotel. “Sempre achamos que é um risco, mas vamos continuar ano que vem”, promete a baixista da The Shorts.
Wry, Holger, Inky, Mescalines, O Terno, Aldo, The Band e a badalada Boogarins tocaram em Curitiba graças à Volcano Produções, criada por integrantes e ex-integrantes da banda curitibana Audac.
A ideia inicial era fazer intercâmbio com grupos de fora, mas virou um festival que agitou a Sociedade 13 de Maio e o Jokers.
“No começo não tínhamos muita distinção e todo faziam tudo, era um grande brainstorm”, diz Pablo Busetti, ex-baterista da Audac e ex-parceiro da Volcano.
Os nichos “desamparados” são relembrados pelo músico, que também cita a falta de conexão de grandes produtoras com o que está acontecendo na “cena” da cidade. O público médio dos festivais foi de 300 pessoas – ingressos entre R$ 15 e R$ 40.
E a pergunta “deu certo?” vem sempre com duas respostas. “Pelo lado artístico, valeu muito a pena. Trouxemos bandas relevantes. Mas, financeiramente, não. Uma soma de fatores – inexperiência, pouco patrocínio – fez com que tivéssemos prejuízo em todas as edições. Do it yourself é massa, mas ter grana para fazer é melhor ”, diz Pablo.
Alyssa Aquino, vocalista da Audac, avisa que pessoas de fora procuraram a Volcano para parcerias. Apesar de tudo, o projeto deve seguir – o guitarrista de uma banda indie norte-americana está nos planos da produtora.
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