| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

Se eu chegasse com a conversa que segue aí abaixo para cima do menino cabeludo que queria anarquizar o mundo depois de uns rabos de galo no Bar do Joe (eu, em 1995) provavelmente iria acabar em briga.

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No fervor dos 16 anos eu achava que grandes mudanças (na época as chamávamos de “revolução”) só aconteceriam na base da porrada; no dia em que as pontas das baionetas do exército popular furassem o bucho opressor dos donos do poder.

Talvez pela mescla de preguiça e covardia que só fazem crescer com o tempo, hoje me inclino a acreditar que grandes mudanças só podem acontecer realmente é na ponta do lápis.

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O raciocínio é simples e não é novo: qualquer causa, por mais nobre, apaixonante e urgente que seja ou pareça só ganha potencial para entrar na agenda política real quando consegue provar para algum setor do grupo que a impõe (mercado, indústria, elite política, quem mais?) que aceitar a mudança pode dar algum tipo de lucro ou vantagem para alguém.

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É certo que esses mestres do universo são matreiros, mas é preciso dobrá-los. Usemos o exemplo da defesa do meio ambiente, causa fundamental se estiver em nossos planos continuar existindo. Alguns dos poucos avanços que conseguimos deram-se quando se conseguiu demonstra, com projetos criativos e inovadores, que cuidar da água, por exemplo, é “bom para os negócios da família”.

Ainda que o pequeno punk de família cuspisse nesse pragmatismo capitalista – e que talvez o advento da economia compartilhada supere um dia esse tipo de preocupação – eu hoje tentaria convencê-lo de que toda nossa energia precisa estar concentrada para esse tipo de pesquisa. Em mostrar aos malandros históricos enquanto eles ainda apitam como é bom ser honesto, na esperança que eles sejam um pouco honestos ao menos por um tempo, nem que por pura malandragem.

Do contrário, as bandeiras acabam por se diluir no lodo das boas intenções que lotam o inferno, na pregação para convertidos dos ativismos corajosos e quixotescos (no melhor sentido da expressão), mas infelizmente pouco produtivos.

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Pode ser melhor escalar a montanha por este lado do que seguir apostando na postura combate x defesa da maior parte da atuação política civil contemporânea que perde força, às vezes, combatendo o inimigo errado ou afastando interlocutores interessantes.

Sinto, contudo, que cada vez mais (me incluo nessa até o pescoço) perdemos tempo demais acompanhando da geral polêmicas obtusas da política partidária, patrulhando comportamentos ou desperdiçando saúde em hedonismo individualista.

A outra saída seria lançar mão da foice e sair por aí cortando a carótida dos infiéis, (aqueles que não pensam da mesma maneira que nós). Pelo que tenho ouvido por bares e esquinas, tem muito mais gente cogitando essa segunda hipótese do que qualquer outro tipo de esforço mental.