Eles formam uma espécie de confraria que nunca se encontra, unida por matérias assinadas adoradas e odiadas, por legendas de fotografias equivocadas, pela incrível seção de erratas. E por falar nisso...
Trecho de Os Imperfeccionistas, traduzido por Flávia Carneiro Anderson.
Romance
Os Imperfeccionistas
Tom Rachman. Tradução de Flávia Carneiro Anderson. Record, 384 págs., R$ 42,90.
Os Imperfeccionistas, de Tom Rachman, usa um grupo de personagens caricatos para construir um relato deprimente do jornalismo acossado pela tecnologia.
O autor situa a ação em um jornal de língua inglesa com circulação internacional, produzido em Roma. Apesar de ter correspondentes em algumas das principais cidades do mundo, como Paris e Cairo, a maioria dos profissionais é americana e reside na capital italiana.
Rachman tem experiência de correspondente estrangeiro no New York Times e parece tê-la usado para criar seu diário fictício fundado em 1950. Cinquenta e seis anos depois, o jornal cujo nome não é citado no livro está mal das pernas. Perde leitores progressivamente, resiste a criar uma página na internet e vê o fundador morrer para herdeiros desinteressados assumirem o negócio.
Estruturado em onze capítulos cada um deles relacionado a um personagem e a uma notícia, como em "Pesquisa aponta que europeus são preguiçosos" , o romance é para se ler rápido. Nada nele é complexo. Tem muitos diálogos e um texto jornalístico, herança óbvia dos tempos de Rachman como repórter. Cada episódio em 2006 é intercalado por um que mostra instantes passados do jornal e do patriarca da família Ott, dona do impresso.
Um dos problemas é que o percurso até a última página, embora rápido, parece ter um objetivo único: descobrir que fim vai levar o jornal e os profissionais que trabalham nele. Saber o que acontece na trama é algo que anima vários livros bons e não há nenhum problema nisso. A questão é que, quando cheguei ao fim de Os Imperfeccionistas (não se preocupe, não entrego o desfecho), Rachman me deixou na mão.
Ele não oferece nenhum raciocínio, nenhuma ideia sobre o fim dos jornais e olha que este é o tema do livro , muito menos em relação ao que pode acontecer daqui em diante com a notícia, com quem a produz e com quem a consome. Ele se limita a retratar um momento e o faz de maneira rasteira e rápida. De novo, a única coisa que anima o trajeto é a rapidez com que se vence o texto, ainda que seja triste.
A tristeza não tem que ver com o fechamento do jornal impresso. Ela está ligada aos tipos descritos pelo autor. O livro é triste porque as pessoas que o habitam são tristes e o são de uma maneira que não inspira compaixão. É como se tivessem escolhido ser miseráveis.
De acordo com a visão de Rachman, uma redação de jornal é habitada por tipos terminais. Gente que viveu a vida loucamente durante décadas e que agora se arrasta de uma pauta para outra, cansada e desmotivada. Pessoas que dedicaram três décadas ou mais ao jornal e se arrependem disso, remoendo a crise atual em apartamentos com pouca mobília e nenhuma comida.
Para piorar tudo, a única que tem talento e trabalha com gosto, a chefona da redação romana, está irremediavelmente sem rumo e sozinha.
Todos eles têm em comum o fato de serem previsíveis e grotescos.
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