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Os conservadores americanos ficaram ultrajados quando a banda Dixie Chicks criticou o presidente George W. Bush. Mas um novo documentário sobre John Lennon e suas diferenças com a administração do presidente Richard Nixon em torno da Guerra do Vietnã sugere que o que Bush enfrentou foi algo muito leve.

"The U.S. vs. John Lennon", de David Leaf, exibido no Festival de Cinema de Veneza esta semana, utiliza imagens televisionadas inéditas e clipes de noticiários exibidos agora pela primeira vez em décadas.

A viúva de Lennon, Yoko Ono, autorizou Leaf e o co-diretor John Scheinfeld a usar seu acervo de imagens e a música do ex-Beatle no documentário de 100 minutos que mostra a turbulência dos EUA no final dos anos 1960 e início da década de 1970.

O filme começa com Lennon procurando tranquilizar a oposição suscitada nos EUA a sua declaração de que os Beatles eram mais populares do que Jesus.

O músico é mostrado fazendo seus célebres "bed-ins" para a paz, em que passou sua lua-de-mel na cama pela paz, discursando em comícios gigantes, fazendo um concerto para um amigo preso, criticando Nixon em entrevistas e financiando uma campanha publicitária internacional intitulada "A Guerra Acabou!"

A título de comparação, as Dixie Chicks se tornaram sinônimo de movimento de protesto, hoje, apenas porque sua vocalista declarou em Londres, em 2003, que sentia vergonha de Bush. Um filme foi feito sobre a reação a essa declaração: "Dixie Chicks: Shut Up and Sing" (Dixie Chicks: calem a boca e cantem).

Leaf disse que seu documentário é relevante hoje, diante da discussão travada em torno da invasão do Iraque e do que alguns vêem como sendo a erosão das liberdades civis nos Estados Unidos.

- O filme em si não pretende comentar o mundo de hoje - disse o diretor em coletiva de imprensa.

- Mas é impossível assistir a ele sem ouvir ecos do passado naquilo que está acontecendo no mundo hoje.

Filme demorou a sair

Leaf disse que o filme só conseguiu apoio financeiro e o apoio de Yoko Ono após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001.

- Foram necessários os acontecimentos pós-11 de setembro na América para fazer as pessoas perceberem que essa não era uma história relevante apenas para o passado, mas que ela tinha uma ressonância contemporânea e precisava ser contada.

Imagens noticiosas dramáticas dos EUA e do Vietnã são intercaladas com imagens de Lennon e entrevistas com políticos e comentaristas da época, num filme que mostra John Lennon como herói do movimento contra a guerra e vítima de um governo vingativo.

Leaf reconheceu que foi difícil encontrar ex-integrantes do governo Nixon ou pessoas que tivessem apoiado a guerra do Vietnã para participar do filme. Mesmo assim, afirmou que seu filme é bem equilibrado.

- Não foi fácil encontrar alguém do lado direito do espectro político. G. Gordon Liddy (um assessor de Nixon que foi preso por sua participação em Watergate) foi mais ou menos o único da administração Nixon que se prestou a participar.

Do lado político oposto, vê-se uma gama de figuras liberais conhecidas, incluindo Gore Vidal, que em dado momento fala: "Nixon e o presidente Bush representam a morte, e isso é uma coisa ruim."

A parte final do documentário trata da longa batalha jurídica de Lennon para evitar ser deportado, batalha que ele acabou vencendo em 1976.

"The U.S. vs. John Lennon" será lançado nos EUA em setembro.

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