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 | André Rodrigues /  Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

Primeiro domingo de dezembro de 2012. Por volta das 16 horas, uma chuva forte cai sobre Curitiba. Uma chuva de dez dias seguidos concentrada em cerca de uma hora, que derrubou árvores, destelhou casas, inundou ruas e fez cair a energia em várias partes da cidade. Raios e trovões faziam a trilha sonora da tarde.

Perto do Cemitério Municipal, no Espaço Cênico, um misto de escola de artes com um teatro embutido, a banda Nuvens se preparava para o segundo dia de gravações do DVD que deve lançar no ano que vem. A chuvarada causa goteiras que aos poucos vão ficando cada vez mais fortes e ameaçam parte do equipamento do local, causando correria entre os produtores.

Alguns momentos mais tarde, a Nuvens finalmente pisa no palco, com os equipamentos a salvo e a atenção de um grupo de dezenas de privilegiados fãs. Fez-se o silêncio para a primeira música, e do computador saem efeitos de.... chuva e trovões. O vocalista da banda, Raphael Moraes, dá uma risadinha irônica, ergue os ombros e os olhos, como a mostrar que o show combinava com o tempo. E o clima, dentro do Espaço Cênico, só esquentou nas cerca de três horas que se seguiram.

A música inicial é nova, chama-se "Dançar na Chuva" e foi composta pelo baterista Guima Scartezini. A letra, a uma certa altura, traz "um casamento com chuva, dizem ser abençoado". Todas as músicas da gravação do DVD foram repetidas duas vezes para que fossem colhidas mais imagens e para evitar problemas técnicos na captação do som, mas "Dançar na Chuva" foi repetida uma vez mais e foi uma grande surpresa.

Após o intervalo, no meio das gravações, a banda avisa que terá de fazer de novo a primeira música por "problemas técnicos". Voltam os sons de trovões e chuva, a entrada da bateria é bem mais sutil, a guitarra ficou baixinha e surge uma voz pré-gravada com uma declaração de amor, ao fim da qual, o baterista Guima vai à boca do palco, se ajoelha e pede a namorada em casamento. Aplausos e lágrimas.

Enquanto as meninas e alguns marmanjos secavam os olhos deste momento fofo e emocionante, a banda mal tem tempo para respirar e inicia a parte mais rock-and-roll da gravação.

Na música "Caos à Vontade", que dá nome ao DVD (e que tem um clipe bem teatral e legal rolando na internet), o baixista Marcos Nascimento entra com uma máscara contra gás e, tocando, contracena com Rapha Moraes, enquanto este canta "Acalma essa alma imoral/ Nem tudo o que é caos é mal/ nem o que é errado é ruim", acompanhado pelo público. Bela música, bela interpretação e concepção, que promete ser um dos pontos altos do DVD.

A gravação foi num crescente e nem as pausas e repetições esfriaram o público, que ao fim da última música levantaram o vocalista nos braços e o lançaram para o alto. Rapha aproveitou o impulso, se segurou e escalou a estrutura de ferro do espaço. "Parecia uma geleca. Jogou, grudou", brincou depois da gravação o guitarrista Amândio Galvão, responsável por belas frases de guitarra, alternando entre o slide e o dedilhado, com um timbre admirável.

As gravações ainda tiveram a participação especial de Marquinhos Pereira, que por cinco anos foi o percussionista da banda e saiu há pouco tempo. Afinal, como ele disse, "não iria perder esta festa".

E foi realmente um clima de festa, mas com muito profissionalismo, a gravação do DVD Caos à Vontade que, como disse Rapha Moraes pouco antes de se despedir na última música, "é o momento mais especial da história da banda". E, antes de cair nos braços do público e ser lançado à estrutura de ferro, cantou "Eu dou adeus ao deus do medo/ Eu dou adeus ao deus da dor".

No início da noite do primeiro domingo de dezembro de 2012, a chuva havia parado em Curitiba. O público, a banda e a equipe técnica deixam o Espaço Cênico com a sensação de alma lavada.

Banda Nuvens

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