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A Origem: construção das múltiplas camadas de realidade do longa-metragem exigiu sete meses de filmagens em seis cidades diferentes: Tóquio, Carlington, Paris, Tânger, Los Angeles e Calgary | Divulgação / Warmer Bros.
A Origem: construção das múltiplas camadas de realidade do longa-metragem exigiu sete meses de filmagens em seis cidades diferentes: Tóquio, Carlington, Paris, Tânger, Los Angeles e Calgary| Foto: Divulgação / Warmer Bros.

"Chris acrescenta muito à festa", diz Warner

Com Amnésia (2002), filme noir independente sobre um homem (Guy Pearce) a procura do assaltante que lhe roubou a memória de curto prazo, o cineasta Christopher Nolan habilmente demonstrou que poderia fazer filmes atraentes em escala menor.

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  • Diretor defende campanha promocional ambígua, que mostra poucos detalhes

Los Angeles - Quase tudo no universo de Christopher Nolan é mais do que aparenta ser. Em suas mãos, o longa Amnésia, de 2000, tornou-se não só um tenso thriller baseado num artifício psicológico irresistível, mas também seu cartão de visitas para uma carreira de independência cinematográfica.

Seu trabalho mais recente, Batman – O Cavaleiro das Trevas, não se resumiu a um lançamento de verão de grande orçamento sobre um herói vigilante em traje de morcego. Acabou sendo também uma meditação sobre heroísmo e terrorismo. Mesmo a enganosamente modesta casa que mantém numa quadra igualmente modesta de Hollywood tem uma dupla identidade: serve ao mesmo tempo como residência e bunker, onde Nolan se dedica a terminar seu primeiro filme desde O Cavaleiro das Trevas, que em 2008 obteve a maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos para um longa-metragem sem a assinatura de James Cameron.

No entanto, apesar de toda a badalação que virá com o novo filme do diretor, A Origem – lançamento da Warner Brothers, previsto para 16 de julho (6 de agosto, no Brasil) – a maioria de seus potenciais espectadores continuará sem saber nada. Por decisão do próprio Nolan, os trailers de A Origem têm mostrado pouco mais do que fragmentos nos quais figura sua principal estrela, Leonardo DiCaprio, mais um elenco de apoio elegantemente vestido, em sequências de ação em câmera len­­ta. Intensificar a natureza fantástica dessas sequências desconexas e seus cenários vagamente modernos serve para revelar que tudo ocorre dentro de um sonho.

Com essas poucas migalhas, Nolan e o estúdio que o banca estão confiantes de que a película, difícil e um tanto cara, atraia grandes multidões. A aposta é de que o público passou a ver Nolan como um diretor que combina emoções íntimas com imaginação desmedida e recursos aparentemente ilimitados – um autor de blockbusters que fez do exagero seu meio.

"Quando alguém passou anos fazendo um filme e gastou quantias enormes de dinheiro, o que se quer ver como resultado é algo ex­­tremamente ambicioso em to­­dos os sentidos", disse Nolan, 39 anos, há algumas semanas, do lado de fora da garagem que transformou em sua sala de edição. "É claro", acrescentou, com uma risada seca, "há também fracassos extremamente ambiciosos para todos os gostos."

Extratores de sonhos

Em A Origem, DiCaprio interpreta Cobb, líder de um grupo de "extratores": pessoas capazes de participar e influir nos sonhos de outras. Com essas habilidades, os extratores podem ensinar seus clientes a salvaguardar os segredos trancafiados no próprio subconsciente, ou como roubá-los de mentes desguarnecidas. Convocado a encarar o desafio inverso, de implantar uma ideia na cabeça de alguém, Cobb reúne sua equipe (nela estão Joseph Gordon-Levitt, de 500 Dias com Ela e Ellen Page, de Juno) e projeta um complicado assalto à mente que os conduzirá através de camadas de sonhos dentro de sonhos, e até uma mulher misteriosa (Marion Cotillard, de Piaf – Um Hino ao Amor), parte do passado de Cobb.

Criar as múltiplas camadas de realidade do filme tomou sete meses de filmagens em seis cidades – Tóquio, Carlington (Inglaterra), Paris, Tânger (Marrocos), Los Angeles e Calgary, na província de Alberta, Canadá – a um custo estimado de 160 milhões de dólares.

Para Nolan, um homem alto e bem-educado que cresceu entre Londres e Chicago, e que ritualisticamente traja sobretudo e camisas de colarinho mesmo num dia quente de primavera, números dessa magnitude são intimidadores, mas necessários. "Descobri que não é possível executar esse tipo de ideia pensando pequeno", explicou, enquanto tomava chá numa mesa de piquenique em seu quintal.

"Quando se está falando de sonhos", ele acrescentou, "é do potencial infinito da mente humana que se trata. É preciso, ao final do filme, que o espectador tenha a sensação de que pode ir a absolutamente qualquer lugar. E aí se torna necessário trabalhar com orçamentos expressivos."

Sacada

Embora sonhos desde sempre sejam matéria-prima do cinema, Nolan diz que os filmes muitas vezes os tratam como "um programinha de tevê que vemos quando estamos dormindo".

A sacada fundamental que lhe permitiu concluir o roteiro de A Origem foi pensar no que poderia acontecer se muitas pessoas pudessem compartilhar o mesmo sonho. "Quando você remove a privacidade", raciocina o diretor, "cria um número infinito de universos alternativos, nos quais as pessoas podem ter relações com significado e valor, com substância, com consequências dramáticas."

Na opinião do elenco, o complexo roteiro escrito por Nolan era tentador, mas, por vezes, de causar perplexidade. "Um roteiro muito bem escrito, completo", lembra Leonardo DiCaprio, "mas a gente realmente precisava do Chris em pessoa, na hora de tentar articular algumas das coisas que têm passado na cabeça dele."

Durante as filmagens, conta DiCaprio, às vezes era necessário pôr de lado questões sobre como, digamos, seria montada ou destruída uma paisagem urbana no estilo de um desenho de Escher, confiando em que Nolan cumpriria o planejado.

"Temos a essência básica da coisa", explica DiCaprio. "Vemos que é seguro e fazemos nossa parte enquanto, em torno, Paris se desintegra."

Gordon-Levitt enfrentou desafios singulares no filme, treinando durante semanas para atuar numa longa sequência com gravidade zero, em evocação tanto ao musical Núpcias Reais, de Fred Astaire, quanto a 2001: Uma Odisséia no Espaço. O ator afirma que o esforço extra foi um preço pequeno a pagar para ajudar Nolan a realizar seu projeto. "Simplesmente não é muito comum que alguém tão criativamente inspirado como Chris tenha carta branca para fazer o que diabos queira fazer", comenta. "Qualquer coisa em que possa pensar – seja o que for – ele tem que fazer."

Ao falar sobre A Origem, Nolan pode, ocasionalmente, se perder em minúcias, explicando as regras intrincadas que desenvolveu para o seu mundo de sonhos. ("Juro que no filme não fica confuso", diz, depois de revelar um detalhe particularmente bizantino.) E defende a campanha promocional ambígua.

"Na verdade, em sua essência, é um grande filme de ação, e que não tenta enganar o público", afirma. Dada a complexidade do universo que cria, "fica muito mais difícil apresentar um trailer de dois minutos e meio que todo mundo veja e possa dizer: ‘Ah, sim, entendi do que se trata’".

O diretor se sentiu encorajado pela tradição de filmes de fantasia de grande sucesso, de Star Wars à trilogia de O Senhor dos Anéis, do tipo que aponta para realidades mais amplas do que se poderia detalhar em filmes. Em particular, acrescenta o diretor, a alucinação Matrix mostrou como uma audiência de massa pode se empolgar com um "conceito filosófico altamente com­­plexo, em certo sentido".

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