Associação credita fenômeno ao "marketing"
A Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) deixou de contabilizar dados referentes à fabricação e venda de vinis alguns anos antes do fechamento da Poly Som. Mas para Paulo Rosa, presidente da entidade, os bons números do negócio nos EUA e o anúncio da reinclusão do Brasil no mercado não significam tanto.
Arte e som inimitáveis
O músico Vandique Gonçalves da Silva, de 52 anos, consegue misturar a tradição do vinil com o hype de bandas recém-saídas de garagens. O curitibano adquiriu pela internet, a R$ 120, o vinil da californiana Fleet Foxes, destaque mundial com seu primeiro e homônimo álbum. As metáforas que utiliza servem para exemplificar as principais qualidades do vinil sobre outras mídias: som e duração.
Elias Hatem ganhou seu primeiro disco de vinil aos 11 anos. Era Hair of the Dog (1974), da banda escocesa Nazareth. Foi assim que começou sua coleção de 350 exemplares. Hoje, compra de três a seis bolachões novos mensalmente, além de fuçar em sebos quase todos os dias. Adquire os vinis em dólares ou euros pela internet, por meio de importadores diversos. Mas Hatem, também DJ e produtor musical, poderá voltar a usar reais em suas negociações ao menos se quiser comprar discos de artistas brasileiros.
A gravadora carioca Deckdisc está em processo de compra da Poly Som, última fábrica de vinis do Brasil a fechar suas portas, em outubro de 2007. Localizada em Belfort Roxo, no Rio de Janeiro, a empresa deverá voltar à ativa daqui a dois meses, com vinis novíssimos de Fernanda Takai e Nação Zumbi.
"A ideia é reativar a fábrica e esquentar o mercado", disse João Augusto, presidente da Deckdisc. Em seu portfólio, a gravadora tem artistas como Cachorro Grande e Pitty. Nos tempos em que a queda nas vendas de CDs e o aumento da pirataria se acumulam à crise econômica, parece que o tradicional disco voltou a encontrar agulhas que o queiram. Só nos Estados Unidos, no ano passado, as vendas de discos em vinil subiram 89% em relação a 2007, enquanto as vendas em CD tiveram queda de 8,5% no mesmo período nos EUA e de 33,2% no Brasil na comparação entre os anos de 2006 e 2007. (ver infográfico).
"Já há muitos pedidos para a fábrica. Há vários selos nacionais e inclusive alguns da América do Sul interessados", explicou Augusto, que colocou seus sonhos à frente das questões mercadológicas. "É bastante arriscado o que estamos fazendo, mas a gente quer muito isso. Vamos comercializar o suficiente para manter a fábrica funcionando. É um sonho meu".
Os neonostálgicos
O vinil deixou o cheiro de naftalina de lado e atacou o mainstream novamente. Em 2008, alguns artistas brasileiros prensaram seus discos também nos acetatos Lenine e Bonde do Rolê entre eles.
A sonoridade inigualável e a transformação de capas de discos em obras de arte atraíram novos fãs, sejam DJs, que utilizam os discos em remixes, ou pessoas como Daniel Salles, de 26 anos, que conta 300 discos na estante.
"Comecei a comprar vinis há uns dois anos. 80% deles são de música nacional", explica Salles, secretário do campus de Artes da Universidade Federal do Paraná. A qualidade sonora é o principal motivo da escolha.
Com 2 mil discos que forram uma sala inteira, está o curitibano Otávio Zuncon, de 35 anos. O professor universitário começou como colecionador e hoje é conhecido como "Discotecário Bob", uma espécie de seletor musical, sempre presente em festas e bares.
"Na verdade o vinil nunca saiu de cena. É que a nossa maneira de ouvir música mudou. Hoje o CD é muito mais prático. Você não consegue ouvir um vinil no carro, por exemplo. Essa dificuldade de manipulação fez com que muita gente os abandonasse", contou Zuncon, que também ressaltou as qualidades do bolachão. "Algumas frequências, mais baixas ou mais altas, o CD não consegue emitir. O vinil consegue o preenchimento do espaço."
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