O desembarque da expedição das Ilhas Fiji (diz-se Fidji) à COP8 causou sensação desde o aeroporto. Não eram os únicos homens de saia entre os 3,7 mil participantes do evento, mas com certeza eram os mais simpáticos. Chegaram a esboçar uns passos de dança no Afonso Pena, levando vantagem no ranking informal das delegações estrangeiras mais exóticas. Não parou por aí. No Expo Trade, enquanto um delegado acompanhava as negociações, dois outros participavam do Community Taba – um espaço alternativo, na área externa, em que rola uma mini-COP, sem a camisa-de-força do consenso, lei máxima das reuniões da ONU. Novamente, um sucesso.

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Os sujeitos – dois falantes profissionais, daqueles que conversam até com quem não entende chongas do que eles dizem e batem palmas durante o papo, tornando tudo ainda mais divertido – são Lemeki Lenoa, da ONG Conservation International, e Ratu Masi Roraveli, um chefe de comunidade. Aliás, em Fiji, que fica na Melanésia, Oceania, e teve colonização inglesa, as comunidades são muitas. Tem duas ilhas grandes – Vanua Levu e Viti Lelu – algumas médias e 300 ilhotas, daquelas que os desenhos animados adoram reproduzir. Confira os principais trechos da entrevista à Gazeta do Povo:

As saias de vocês chamam atenção em Curitiba...Ratu Masi Roraveli – Essa saia se chama sulu, uma roupa usada pelos homens apenas em ocasiões formais, na igreja, nas convenções, nas reuniões. É uma canga amarrada do lado, muito confortável. O mundo inteiro poderia usar. Certamente muitos homens iriam aprovar (risos).

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O que diria sobre seu país aos brasileiros?Ratu Masi Roraveli – Que somos uma nação de 850 mil habitantes, onde ninguém é eleito porque tem dinheiro, mas para trazer benefícios para as ilhas. E que temos o costume de escolher representes da comunidade para levar nossos pedidos aos governantes. Lá, qualquer um pode falar com o presidente e entrar no parlamento. É um direito. Aqui vocês não têm como fazer isso.

Como funciona a ONG Conservation International?Lemeki Lenoa – Nossa ONG opera em três ou quatro países e tem um programa no Pacífico Sul, o que inclui Fiji, onde 50 participantes trabalham com a comunidade local. Nosso objetivo é conservar a floresta e a mata ciliar, além de identificar que áreas das ilhas necessitam de conservação. Viemos à COP8 porque aqui devem ser discutidas questões referentes à biodiversidade das ilhas oceânicas.

O que esperam da COP8?Lemeki Lenoa – Financiamento de programas e suporte técnico e científico. Um dos nossos maiores problemas são as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar, seguido da destruição das florestas. Há também a biopirataria, a caça do porco selvagem, a coleta irracional de plantas nas florestas e o uso do conhecimento tradicional. Algumas indústrias querem roubar nosso patrimônio.

Que experiência gostariam de partilhar neste encontro?Lemeki Lenoa – Temos vontade de resolver o problema de repartição de benefícios genéticos (ressarcimento pelo uso de saberes e de recursos da natureza para fins comerciais), mas o governo das Ilhas Fiji não tem dinheiro para implementar isso. Muitas comunidades vivem praticamente da caça e da pesca. Há moradores que se sujeitam ao corte ilegal de árvores em troca do dinheiro pago pelas indústrias. Temos programas para evitar que isso aconteça. Precisamos de apoio internacional.

Como é esse projeto?Lemeki Lenoa – Há uma reserva de 20 mil hectares, financiada pelo Fundo Mundial do Meio Ambiental, na qual desenvolvemos um projeto de educação ambiental. É simples: a gente fala, não cortem a madeira, porque nós temos como retribuir o trabalho da preservação. Estamos protegendo principalmente a Agatuis vitiensis, uma árvore típica da região.

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