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Nesta terça-feira, por volta das 14 horas, quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, subiu no caminhão de som estacionado em plena Avenida Sete de Setembro com Desembargador Westphalen – isso mesmo, bem ali, para discursar para mais de 1,5 mil crianças reunidas para uma ação de defesa do meio ambiente – a turma do Greenpeace Internacional, ONG que idealizou o evento, deve ter suspirado de alívio em pelo menos 15 línguas diferentes. A logística da organização era à prova de invasão de alienígenas, mas uma coincidência de mobilizações, todas no Centro da cidade (três ao todo), fez com que a passeata mirim atrasasse em cerca de uma hora. Para quem tem menos de 10 anos de idade, leia-se "uma eternidade".

Em 60 minutos, fez-se de tudo um pouco para distrair as crianças oriundas de aproximados 50 grupos do Ecos Ambiental, programa de contraturno mantido pela prefeitura de Curitiba em parceria com a Universidade do Meio Ambiente. A bateria da ONG Grande Roda de Tambores – que há dois anos ensina maracatu para moradores da Moradias Cajuru – distraiu os pequenos. Deu-se três voltas com eles na pista de Cooper da Praça Oswaldo Cruz, bebeu-se parte da reserva de água doce do planeta e formou-se muitas filas no banheiro, e nada de ganhar a avenida. O garoto no barquinho de Noé parecia pedir que viesse logo o Dilúvio Universal. Enquanto isso, Greenpeace, Polícia Militar, monitores do Ecos e lideranças dos escoteiros eram beneficados pelos surdos e repiques: graças ao barulho, ninguém conseguia ouvir o que falavam, mas a temperatura estava alta – na praça e na conversa.

"O tempo está ótimo", amenizou o major Douglas Dabul, da Polícia Militar, responsável por toda a operação de segurança da COPMOP. "Fiquei sabendo nesta terça-feira de manhã que haveria a manifestação da Via Campesina. Não podemos soltar 1,5 mil crianças na rua enquanto os outros manifestantes não se dispersarem", explicou. Cerca de 150 homens foram mobilizados para a Operação Greenpeace. Todos diziam "não e não". Até que às 13 horas a Sete de Setembro foi liberada. Tinha professor quase plantando bananeira para dar conta da gurizada. Mas a dita eficiência logística do Greenpeace não decepcionou. Enquanto o próprio major Dabul foi a campo, liberando passagem para motoristas de ônibus à beira de um treco, os escoteiros faziam proteção humana para que o cortejo passasse, com fantasias já meio murchas, é verdade. "A tevê vai filmar? Não agüento mais ficar sorrindo de plantão", soltou Camila Rodrigues, 8 anos, na comitiva que pedia a preservação do mico-leão-dourado, do lobo-guará e da onça pintada. O abre-alas animado, formado por membros do Jovens pela Floresta, vários deles europeus, bem que se esforçava para levantar o moral da tropa, pulando e tentando um requebro. Por sorte, o samba não está em extinção.

O último obstáculo do desfile veio na hora em que se anunciou que a gurizada não iria até Marina, no Shopping Estação, mas Marina viria até a canaleta do expresso. Alvoroço total. Pára caminhão de som, breca alas, arruma fantasia, abre espaço para a ministra passar com mais ou menos dez homens de preto. No corre-corre, nenhum golfinho ou borboleta com material reciclado foi pisoteado. Marina subiu no carro, deu a palavra à filha de 16 anos, Moara, depois contou, em tom de fábula, como se tornou ambientalista – viu o pai sentar o machado num cedro. A seiva parecia sangue e a menina dos seringais da Amazônia fez uma pasta de barro como curativo. O pai se emocionou.

Imagine se visse a filha ministra, a oito metros do chão, parando o trânsito da Sete de Setembro por uma hora e meia. Tudo bem, alguém gritou "cadê o Lula?". E tinha motorista curitibano nervoso. Mas também gente aplaudindo da janela dos ônibus. O menino que já quase dormia em cima da faixa em que estava escrito "Ministers of nations. It’s your hands to save the last ancient forests! (Ministros das Nações. Está nas mãos de vocês salvar as matas nativas)" teve muito o que contar em casa.

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