Segredos perigosos
Confira os vazamentos mais recentes WikiLeaks
Espionagem
O vazamento dos cerca de 250 mil telegramas diplomáticos tornou público que os Estados Unidos pedem para que seus agentes coletem material diplomático, roubem senhas de cartão de crédito e espionem altos funcionários das Nações Unidas. Embora parte dos documentos possam ser classificados como fococas, fatos como o citado têm claro interesse público.
Guerra do Iraque
Em outubro de 2010, o WikiLeaks divulgou parte dos cerca de 390 mil relatórios dos Estados Unidos sobre a Guerra do Iraque, mostrando que houve 109 mil mortes no Iraque, dos quais 66 mil 60% eram civis. Esses documentos foram publicados em coordenação com vários veículos de comunicação, entre eles, The New York Times, Le Monde, Der Spiegel e Al Jazeera, que receberam os relatórios tempos antes de eles serem divulgados na página da organização. Em abril de 2010, a organização publicou no website Collateral Murder um vídeo que mostra civis iraquianos sendo mortos em um ataque aéreo das forças militares norte-americanas.
Afeganistão
Em julho de 2010, divulgou mais 76 mil relatórios secretos do governo dos Estados Unidos sobre a Guerra do Afeganistão.
As tecnologias da informação estão transformando as relações internacionais de tal maneira que indivíduos e organizações sem fins lucrativos começam a ser considerados atores sociais de relevância nesta área, chegando, mesmo, a incomodar os Estados-nações. É exatamente o que está ocorrendo nos episódios recentes de vazamento de informações confidenciais do WikiLeaks. Pois, passam a disputar um recurso de vital importância para garantir a legitimidade de governos a adesão da opinião pública.
A prisão de Julian Assange e a retaliação articulada pelos Estados Unidos, pressionando governos, servidores de internet e instituições financeiras a boicotar o WikiLeaks são provas de que um indivíduo, chefiando uma organização sem fins lucrativos, pode não só causar embaraços diplomáticos a uma nação, mas pôr em xeque a legitimidade de suas atividades militares (leia quadro ao lado sobre vazamentos já realizados pela organização).
"A internet permite que pequenos grupos de indivíduos tenham grande expressão e disputem com os Estados a opinião pública transnacional", analisa o professor Sergio Amadeu, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciência Política da Universidade Federal do ABC (UFABC). Segundo ele, a rede aumentou o poder das pessoas "fazerem mais por elas próprias", assim como ampliou a possibilidade de se trabalhar coletivamente. "Mas o mais importante, a internet aumentou a possibilidade de se produzir coisas além do mercado, coisas colaborativas, cujo maior exemplo é a Wikipedia."
Indivíduos globais
Corporações transnacionais, organizações não-governamentais e a própria sociedade passa a disputar espaço como atores internacionais, estabelecendo a possibilidade de persuasão por meios diferentes daqueles convencionais como o poder econômico ou militar. A informação torna-se peça chave na nova dinâmica internacional, pois proporciona maior capacidade de convencimento e de mobilização de atores globais, influenciando o comportamento dos Estados tanto no plano doméstico, como internacional.
Na avaliação do professor Eduardo Saldanha, da FAE Centro Universitário, a informação mudou um paradigma das relações internacionais. "Deu poder a atores não estatais de forma sem precedentes na história, e a cada dia tal poder continua aumentando."
Na avaliação de Saldanha, com a revolução tecnológica cada vez mais o Estado vai perdendo espaço. "O poder é uma pizza. Quando o Estado perde, alguém está ganhando. Agora o próprio cidadão começa a comer um pouco dessa pizza", explica. "É claro que o estado continua sendo importante, mas o mundo está deixando de ser estadocêntrico. Até que ponto isso vai acontecer é que não se sabe."
O professor de Relações Internacionais Rafael Pons Reis, do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba), considera que a internet não só elimina fronteiras, como democratiza o conhecimento. Entretanto, mesmo com as facilidades proporcionadas pela tecnologia, ele observa que há uma série de dificuldades para que indivíduos ou organizações não governamentais possam desempenhar com relevância o papel de atores internacionais.
"As ONGs não têm poder como o dos Estados, porque não têm peso econômico e força coercitiva. Entretanto, isso pode estar lentamente mudando, pois verificamos que, em alguns casos, como no do Greenpeace e, agora, do WikiLeaks, elas passaram a ter um poder diferenciado exercendo pressão e denúncia contra às más práticas e influenciando a construção da opinião pública", avalia.
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