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| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Estante

Ribamar é o 10º livro de José Castello em 17 anos.

Profícuo

Ele também já escreveu e publicou Vinicius de Moraes/ O Poeta da Paixão (Companhia das Letras, 1993), Na Cobertura de Rubem Braga (José Olympio, 1996), João Cabral/ O Homem sem Alma (Rocco, 1996), Vinicius de Moraes/ Uma Geografia Poética (Relume Dumará, 1996), Inventário das Sombras (Record, 1999), Fantasma (Record, 2001), Pelé/ Os Dez Corações do Rei (Eduouro, 2003), João Cabral/ O Homem sem Alma/ Diário de Tudo (Bertrand Brasil, 2005, edição revista e ampliada), A Literatura na Poltrona (Record, 2006).

Autor

Um breve perfil

José Castello nasceu no Rio de Janeiro e vive em Curitiba desde março de 1994. Jornalista, atuou nos principais jornais brasileiros. Atualmente, assina uma coluna sobre literatura publicada aos sábados em O Globo.

É o editor e o coordenador do Laboratório de Jornalismo Cultural do projeto Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú Cultural. Há três anos, faz com a psicanalista carioca Maria Hena Lemgruber, o projeto Extremos/ Círculo de Leitura de Ficções Radicais.

Na Estação das Letras, no Rio, dirige o Estúdio do Conto, grupo de 15 alunos, selecionados em um concurso.

Opinião

Marcio Renato dos Santos, repórter da Gazeta do Povo

Mergulho na condição humana

Ter a informação de que José Castello escreveu um livro autobiográfico é muito pouco para começar a entender Ribamar.

Leia a matéria completa.

José Castello sabe que os caminhos da literatura são misteriosos e imprevisíveis. Há algum tempo, começou a elaborar um ensaio sobre a relação dos jovens escritores com os seus pais, e o modo como a literatura se interpõe entre eles.

Mas, como quase sempre acontece com Castello (e com muitos escritores), o projeto inicial se transformou. Em vez de um ensaio, surgiu outro livro que, agora, quatro anos depois de escrito e reescrito, chega às livrarias: Ribamar.

O nome do romance, editado pela Bertrand Brasil, faz uma referência ao pai de Castello, José Ribamar Martins Castello Branco (1906-1982).

O escritor reconhece que há elementos biográficos. "Trabalhei com muitas recordações de infância e de juventude. Parte de minha formação está, de fato, nesse livro", admite. Mas o escritor afirma que em nenhum momento pretendeu reconstituir o passado, nem acertar contas com o seu pai. Muito menos restaurar a verdade.

"Usei o passado como matéria de ficção. Fazemos o mesmo: reinventamos nosso passado, de modo que ele se torne suportável e nos ajude a sustentar um projeto de existência", diz.

Castello define Ribamar, antes de tudo, como uma viagem interior. "Não exatamente pelo meu passado, ou pela minha memória, ou pela minha história, mas pela maneira como eu os fantasiei, imaginei e construí", afirma.

O narrador, apresentado como José (o primeiro nome do escritor), apresenta o texto (o corpo do romance), que é dirigido a seu pai, apesar de o destinatário já estar morto – da mesma maneira como o escritor checo Franz Kafka (1883-1924) escreveu Carta ao Pai e entregou livro, não ao pai, mas à mãe.

A música é outro elemento que es­­­­trutura o livro, a começar pela ca­­­­­pa, onde está reproduzida a parti­­­tura de "Cala a Boca", canção de ni­­­­­nar que o pai de Cas­­­­­­tello cantava para ele adormecer.

"Essa partitura só me surgiu no meio do caminho, quando eu já tinha muito material escrito, mas ainda não sabia como organizá-lo. Um dia, minha mãe, Lucy, começou a cantarolar essa canção. Anotei letra e música e repassei a meu irmão, Marcos, que toca violão. Ele transcreveu a canção em uma partitura", conta.

Foi a partir da transcrição matemática da composição que Castello encontrou a espinha dorsal do livro. Cada capítulo corresponde a uma nota da partitura (e há, de fato, um fragmento do pentagrama no início de cada seção).

"Posso dizer que uma melodia ‘toca’ no fundo de Ribamar, embora ninguém a ouça. Mas eu a ouvia todo o tempo. Até hoje não me livrei dela, até hoje a ‘Cala a Boca’ toca em minha cabeça", confessa.

Serviço: Ribamar, de José Castello. Bertrand Brasil, 280 págs., R$ 37.

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