Aos 63 anos, mais de três décadas após ajudar a escrever a série de reportagens que culminou na única renúncia de um presidente dos Estados Unidos na história, o jornalista Carl Bernstein avalia que o papel da mídia não é derrubar governos, mas sim "fazer apenas o seu trabalho" e conseguir "a versão mais palpável da verdade".
Em sua quarta visita ao Brasil, onde esteve pela primeira vez em 1984, no início da reabertura democrática, o ex-repórter do Washington Post, que junto do colega Bob Woodward escreveu as matérias sobre o escândalo Watergate, afirma que a imprensa erra, mas não deve se guiar pela aceitação imediata do público nem pela aprovação dos políticos para justificar seu trabalho.
"Me perguntaram aqui no Brasil o porquê de não conseguirem derrubar o governo, como aconteceu no Watergate. Não me intrometo em questões de outros países, mas respondi que a imprensa não derruba governos, não é a função dela", disse Bernstein em palestra na quarta-feira (26) sobre ética e política, patrocinada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).
"O que é certo é que no caso de Watergate, o sistema todo funcionou. Foram necessárias outras pessoas corajosas na Justiça, no meio político, para que isso terminasse como terminou", completou ele, que elogiou a "vívida" imprensa brasileira e criticou a "auto-importância que a mídia se dá, como se determinasse o destino dos seus países".
Bernstein esquece da modéstia ao responder se hoje em dia, com redações mais enxutas e jornalismo na Internet, os meios de comunicação estariam dispostos a bancar dois repórteres que passariam semanas, como ele e Woodward, investigando para obter aquele que é considerado um dos maiores furos jornalísticos do século passado.
"Nunca houve uma era dourada do jornalismo, as dificuldades de hoje não são muito diferentes daquela época. As nossas reportagens se destacaram porque estavam acima da média do que era publicado nos outros veículos", comentou ele a colegas.
O caso Watergate envolveu o presidente norte-americano Richard Nixon, reeleito com ampla maioria, em um escândalo de escuta ilegal na sede do partido Democrata, com atuação de agentes a serviço do partido Republicano e ligados ao governo. Pressionado, Nixon renunciou em 1974 e deixou o cargo para Gerald Ford, que deu ao ex-mandatário o perdão pelas acusações.
Comentarista de política em TVs norte-americanas e editor da revista Vanity Fair, Bernstein disse que ouviu nos últimos dois dias muitas críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas diplomaticamente evitou juízos de valor sobre o petista e viu melhoria econômica "incrível" nas últimas décadas, o que ajuda no combate "a todo o tipo de corrupção".
"A liberdade é sempre melhor. Ou alguém acha que a União Soviética, comunista e fechada, era menos corrupta", perguntou. Crítico do presidente dos EUA, George W. Bush, Bernstein veio ao Brasil também para promover seu mais recente livro, uma biografia da senadora Hillary Clinton, potencial candidata democrata nas eleições presidenciais de 2008.
Conanda aprova aborto em meninas sem consentimento dos pais e exclui orientação sobre adoção
Piorou geral: mercado eleva projeções para juros, dólar e inflação em 2025
Brasil dificulta atuação de multinacionais com a segunda pior burocracia do mundo
Dino suspende pagamento de R$ 4,2 bi em emendas e manda PF investigar liberação de recursos