Woody Allen fora de foco em cena de Maridos e Esposas (1992)| Foto: Divulgação

Crítica

Como Woody Allen Pode Mudar Sua Vida

Éric Vartzbed. Tradução de Bluma Waddington Vilar. Nova Fronteira, 112 págs., R$ 19,90.

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Como Woody Allen Pode Mudar Sua Vida arremeda o formato dos livros de autoajuda e chega a pegar pesado no subtítulo: "Grandes lições de vida através da visão de um dos maiores gênios do cinema". O exagero é tamanho que parece até uma armadilha. Se o objetivo era fazer uma brincadeira, tudo bem, mas é difícil notar ironia em texto.

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O título, tradução fiel do original em francês, não menciona se a mudança é "para melhor" ou "para pior", embora não deva passar pela cabeça de um leitor de autoajuda que um livro possa ser publicado para piorar a vida da alguém. Se você faz parte do time que considera o conhecimento um fardo, "piorar a vida" diz respeito a todos os livros que valem a pena.

Dependendo do filme de Woody Allen que for usado como referência, a crise decorrente dele vai gerar problemas. Maridos e Esposas (1992), citado apenas de passagem pelo autor, o psicólogo francês Éric Vartzbed, é uma longa discussão sobre relacionamentos, perfeito para detonar uma conversa no mínimo delicada até mesmo entre casais tranquilos.

Mas Vartzbed prefere, dos filmes mais soturnos do diretor nova-iorquino, A Outra (1988), em que a escritora Gena Rowlands passa a questionar suas escolhas de vida ao ouvir o relato de uma mulher que faz terapia na sala ao lado do seu escritório. "Esse filme me fez confrontar dificuldades individuais que exigiam um esforço de compreensão", diz Vartzbed, que abre o livro falando sobre "encontros capitais" – o dele foi com Woody Allen. Que, aliás, está em cartaz nos cinemas com a comédia Para Roma, com Amor.

O texto consegue abordar temas específicos da psicanálise de maneira objetiva e descomplicada. E se existe um cineasta que pode ter seus filmes interpretados pela teoria freudiana e por outras ligadas a ela, esse cineasta é o autor de A Rosa Púrpura do Cairo.

De acordo com uma biógrafa do diretor, Marion Meade, ele fez 36 anos de terapia. Uma das coisas que o manteve tanto tempo em tratamento foi o interesse dele na objetividade do psicanalista. Por ter se tornado uma celebridade, ele dizia que suas relações com as pessoas se tornaram artificiais. A análise era uma maneira de manter a perspectiva.

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Um título mais apropriado para o livro de Vartzbed talvez fosse Como Woody Allen Pode, Junto com a Psicanálise, Mudar Sua Vida. O trunfo do livro é, no fim, o humor de Allen e o senso de oportunidade que Vartzbed tem de colocar tiradas impagáveis nos locais certos.

Como quando ele cita as grandes questões listadas por Allen: "Para onde vou? Quem sou eu? O que tem para jantar hoje?".