O escritor Paulo Coelho criticou a "atitude infantil" do cantor Roberto Carlos por haver promovido um acordo judicial para retirar do mercado uma biografia não-autorizada do "Rei".
- Roberto Carlos tem muito mais anos exposto nos meios de comunicação que eu e já deveria estar acostumado (a comentários sobre sua vida). Continuarei comprando seus discos, mas estou muito chocado com sua atitude infantil - afirmou Coelho, um dos escritores com maiores vendas no mundo, em uma coluna escrita no jornal Folha de S. Paulo.
O autor de livros como "O diário de um mago" e "O Alquimista" considerou como uma possível ameaça à liberdade de expressão o acordo judicial a que chegaram na semana passada Roberto Carlos, a editora Planeta e o escritor Paulo César Araújo para retirar do mercado o livro "Roberto Carlos em detalhes".
Pelo acordo, Roberto Carlos retirou uma ordem judicial que havia acionado contra o autor da biografia e contra a Planeta.
Em troca, a editora, que segundo Coelho aceitou a proposta porque supostamente "o contexto era desfavorável", comprometeu-se a retirar os livros que ainda estão nas livrarias, e Araújo, que dedicou pouco mais de uma década a investigar a vida do cantor para produzir a biografia, aceitou manter silêncio sobre a vida de Roberto Carlos.
Desde que a biografia foi lançada, o cantor vinha protestando por supostamente ter sua intimidade violada.
Segundo Coelho, levando em conta sua admiração por Roberto Carlos e seu respeito pela editora Planeta, que publica suas obras no Brasil e em vários países de língua espanhola, foi com "grande tristeza" que se inteirou do "acordo que prevê a interrupção definitiva da produção e comercialização" do livro.
- O editor disse um disparate para salvar sua honra, o cantor não disse nada e o autor fica proibido de dar declarações a respeito - afirmou o escritor em sua coluna ao se referir ao acordo.
Coelho assegura que, como escritor tem sido "sistematicamente atacado" desde que publicou seu primeiro livro, e tem "autoridade moral" para criticar um acordo desse tipo.
Segundo o escritor, qualquer pessoa, incluindo políticos, músicos, esportistas e escritores, sabe que desde o momento em que sua carreira começa a ser pública fica exposto para que sua vida seja investigada pela mídia e ver suas fotografias publicadas.
Disse ainda que desde que publicou "O diário de um mago", há 20 anos, foi objeto de "milhares de críticas", muitas das quais injustas e que terminaram sendo ataques pessoais, mas apenas de duas ou três calúnias.
- Estou pronto para defender minha honra, mas não vou perder um minuto do meu dia telefonando para um advogado e tentando saber o que posso fazer para defender minha vida privada, já que ela já não me pertence - acrescentou.
Coelho disse que a Planeta tem que explicar qual era esse "contexto desfavorável" que motivou o acordo e se por acaso o livro continha calúnias, porque, nesse caso, tem seu apoio integral, pois "calúnia é sinônimo de infâmia".
- Mas, caso contrário, está colaborando para que comece a ser aberto um sério precedente: a volta da censura - afirmou - Também continuarei sendo editado pela Planeta, pois temos contratos firmados. Mas insisto: gostaria que minha editora, dinâmica e corajosa em se instalar no Brasil, explique a todos os brasileiros o que significa esse tal contexto desfavorável.
Ele concluiu:
- Desfavorável é fazer acordos a portas fechadas, colocando em risco uma liberdade reconquistada com muito sacrifício depois de haver sido seqüestrada por anos pela ditadura.
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