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Pesquisador do Núcleo de Violência do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná - UFPR, o professor Pedro Bodê de Moraes viu "Tropa de Elite", acredita que o filme de José Padilha, principal estréia deste fim de semana nos cinemas de Curitiba, apresenta importantes questões sobre a violência urbana no país.
"O filme levanta vários pontos, dos quais eu gostaria de destacar dois: a corrupção e a violência da polícia. O que ele apresenta é um grupo muito violento, o Bope, que não seria (segundo o filme) corrupto e usa técnicas militares, as vezes inclusive de extermínio. Apesar de ser uma crítica ao comportamento do grupo, em alguns momentos o filme claramente faz uma glamourização da Tropa do Bope", aponta o pesquisador, que vê no filme a simplificação de algumas problemáticas que são tratadas com maior complexidade no livro Elite da Tropa, de Luis Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel. "O ideal seria que quem assistisse ao filme também lesse o livro".
O professor destaca que as manifestações de apoio que parte da sociedade demonstra pelas atitudes do grupo no Rio de Janeiro é comum encontrar pessoas tirando fotos ao lado de membros do Bope não se repetem nas favelas. Grupos comunitários questionam as atitudes de uma política que só gerou ainda mais violência nos morros. Já na classe média, o apoio se contrapõe àquilo que no próprio livro é questionado: que uma polícia com aquele nível de violência possa diminuir a violência. "O livro diz isso. Em algumas passagens afirma que essa política só gerou mais violência: bandidos mais violentos, mais armados e mais preparados".
Outra reflexão apontada por Pedro Bodê se refere à forma como o filme retrata a parcela de culpa da elite pela violência. "No filme, isso é mostrado de uma forma um pouco mecânica, mas é uma relação direta: o aumento da criminalidade está ligada à mercados ilegais como o tráfico de drogas, por exemplo."
E mesmo à pirataria. Nunca é demais lembrar que, meses antes do lançamento oficial do filme, mais de um milhão de cópias piratas já circulavam pelo país.
Sobre o interesse que o longa de Padilha despertou na sociedade brasileira, o pesquisador é enfático: "Ele traz uma resposta que está no nosso imaginário. Existe uma polícia violenta, que é o que uma parcela da sociedade quer, desde que não seja atingida por essa violência. O que acontece é que existem indivíduos da classe média que consomem drogas, jogam no bicho, compram em ferro-velho peças de desmonte de carros roubados, e ainda assim fazem passeata contra a criminalidade. Na sociedade brasileira está muito presente essa idéia de querer levar vantagem em tudo", conclui.
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