Opinião - Os náufragos sobrevivem
Há muitas estratégias para tentar evitar a solidão. Altamir Tojal conhece algumas dessas possibilidades e faz disso ficção.
Altamir Tojal tem 63 anos e estreou na literatura com o romance Faz Que Não Vê em 2006, na véspera de completar seis décadas de vida. Ele planejava escrever e publicar ficção desde os 20 e poucos anos. Mas só recentemente conquistou tempo livre para realizar o antigo projeto. É jornalista e passou pelas redações de O Globo, Jornal do Brasil, Isto É, até que abriu, na década de 1990, uma empresa de consultoria em comunicação empresarial.
Tojal acaba de publicar Oásis Azul do Méier, pela editora carioca Calibán. Na opinião do premiado escritor Alberto Mussa, "é um dos melhores livros de contos que surgiram na literatura brasileira nos últimos tempos". Mussa, autor de O Movimento Pendular (vencedor do Prêmio Machado de Assis), leu os originais e assina o texto de apresentação deste livro que traz oito contos.
"Fico, assim, muito honrado por assinar esta modesta apresentação; e particularmente feliz por perceber que a nobre arte do conto ganha mais um cultor, que se apresenta já em plena maturidade", afirma Mussa.
Tojal produz uma ficção que, mesmo em uma primeira leitura, parece ser resultado de muito trabalho. Ele confirma que escreve e reescreve continuamente os textos literários.
O romance Faz Que Não Vê teve a primeira versão finalizada em 2001. Mas Tojal não gostou do resultado. Matriculou-se em um curso de especialização em Filosofia Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ) e, somente após a imersão, escreveu uma segunda versão. "Tive necessidade de estudar porque eu queria me aprofundar em algumas questões reflexivas", comenta.
Em seguida, encaminhou o texto para o escritor Antônio Torres, que fez comentários críticos e apontou problemas a serem sanados. Tojal reestruturou o romance e, em 2006, viu impresso o seu livro de estreia.
Faz Que Não Vê mostra o impasse de um sujeito que foi guerrilheiro durante a ditadura militar e que, no final da década de 1990, havia se transformado em um próspero executivo. "O livro narra o processo de escoamento das utopias pelo ralo do pragmatismo destituído de ética", escreveu Henriques Rodrigues, sobre o romance, no Jornal do Brasil.
Já esses oito contos são resultados de ideias e vivências que Tojal elaborou e acumulou durante a passagem do tempo e que, como ele afirma, não poderia guardar apenas para si. "A literatura é um planeta onde a gente deve se sentir confortável para falar de tudo o que pensa e que muitas vezes fica em escondido", diz, definindo o que escreve.