Visitante vaga pelo corredor do Museu Oscar Niemeyer: vazio predomina| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Gastar duas horas de uma tarde qualquer para tecer uma teoria sobre o que as pessoas procuram ou fazem em museus de arte, mas pode funcionar como boa dica para descobrir como o espaço (inclusive do lado de fora) é utilizado, bem protegido (até demais) e, sobretudo, vazio.

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Era tarde de quarta-feira e a chuva começava. Um casal fazia piquenique apoiado em uma das grandes colunas do pátio externo do MON – Museu Oscar Nie­­meyer, em Curitiba. Dividiam um refrigerante de um litro e meio e comiam com cuidado um bolo caseiro, aninhados ambos sobre uma toalha xadrez azul e branca já meio enrugada. Outros quatro jovens, ao longe, sentavam em roda e cantarolavam enquanto um deles tocava uma balada ao violão.

Depois de deixar o celular e a caneta em uma bandeja branca para passar pela porta antifurto, a primeira visão: dez pessoas com camisetas amarelas – onde lia-se "monitoria" – assistiam a um filme legendado.

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No Espaço Niemeyer, no térreo, só um segurança que passava apressado fazia companhia ao arquiteto autor do projeto do MON, solene em grandes fotos na parede. Uma outra monitora, baixa e de óculos, passou olhando para cima fazendo estranho gargarejo.

Visitantes só foram avistados pelo repórter no caminho ao subsolo, quando mãe e filha – esta na frente e aquela atrás – voltavam de alguma sala. Suas grandes bolsas as incomodavam.

Na sala em que estão sendo exibidas as fotos de Bernie Dechant, o vazio e o silêncio só não eram maior porque três pessoas – uma jovem mulher e duas crianças vestidas de rosa – faziam comentários aleatórios.

Também não havia ninguém nas 48 poltronas do mini-auditório. Os únicos que ouviam Oscar Niemeyer, na tela, falando sobre os contrastes de sua obra no Hotel Ouro Preto, eram dois sujeitos da manutenção, em uniformes cinza e com olhares sóbrios.

Na sala em que está a exposição Quilombolas, um segurança vagava em ziguezague por entre as 15 fotos, agora já familiares. Escadas acima e dois outros seguranças comentavam sobre o frio, enquanto uma jovem gastou 30 segundos observando uma foto horizontal de Tururu, no Ceará. Na rampa que dá acesso à saída, um grupo de italianos se protegia da chuva, agora abundante.

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No último andar, a maior concentração de visitantes. Parece que o teto em forma de abóbada para alguns é mais atrativo do que as pinturas de Fernando Velloso e Daniel Senise – um sujeito que procurou o ponto mais baixo para tocar em suas placas de metal.

Uma jovem fotografava rapidamente um quadro em que vacas voavam enquanto três mulheres e um homem apreciavam à distância um ornato religioso de Jéferson César. "Vamos tomar um café?", ofereceu o sujeito. Ele não foi contrariado.

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