Preta Gil está lançando seu segundo disco, "Preta" (Warner Music), procurando uma correção de rumo na sua persona pública, focando mais na música do que nas outras atividades que lhe deram projeção de mídia, como fazer novela, programas de TV e badalar por aí sempre sob o foco da mídia de celebridades.
Ela faz o show de lançamento nesta quarta-feira no Circo Voador, no Rio. No disco Preta Gil insiste dentro do que chama de afoxé funk, elementos da música baiana misturados ao funk carioca da velha escola, construído com auxílio de Davi Moraes e de seu baixista e co-produtor do disco, Betão.
- A gente tem uma afinidade musical muito grande, a mesma idade, somos cariocas e vivemos neste mundo. Ouvimos muito Michael Jackson, Stevie Wonder e Timbalada. Tenho minhas idéias, minhas sonoridades e elas são responsáveis pela tradução porque não toco nada - diz Preta numa entrevista na sede da Gegê produções, do pai Gilberto Gil e da madrasta Flora Gil.
O disco é bem comercial e ela assume isso.
- Sem dúvida, não vou ser hipócrita de dizer que não. Mais do que atender ao mercado, teve uma vontade minha de atender ao público que, por sua vez, é o mercado. Sou um ser humano pop por natureza desde criança, não é de agora. Sempre fui popular na escola, na rua, na praia, não gosto de me sentir dentro de um gueto, não tenho esta vocação - diz ela.
Aos 31 anos, um filho e três casamentos, Preta diz que aprendeu muito com as experiências em televisão, a novela "Agora é que são elas", o programa Caixa Preta na Rede Bandeirantes e a fofocada de mídia de celebridades sobre quem ela estava saindo.
- Era uma busca de mim mesma, uma certeza de que existem outras coisas também. A música é forte em mim desde que nasci, é genético até, mas junto com a música vieram outros talentos e quis experimentá-los. Percebi que são muito fáceis, dão a sensação de fazer com um pé nas costas. Mas entrar no estúdio e subir no palco me dão muita dor de barriga, é o que é verdadeiro em mim, melhorar a voz, a respiração, estudar música. Antes disso fiz escola de teatro, adorava estudar filosofia com Hermano Viana, com Chacal, Jorge Mautner era um professor particular. Perdi o rumo quando meu irmão Pedro Gil morreu, pouco depois recebi um convite para morar em São Paulo e fui - conta ela (Pedro Gil morreu em fevereiro de 1990 com 19 anos em decorrência de ferimentos num acidente de carro no Rio).
Há dois anos ela lançou "Preta-à porter", seu primeiro disco, que chama de mais experimental, e paricipou da novela que, segundo ela, serviu para torná-la mais disciplinada.
- No disco estava procurando minha raiz. Sou carioca, filha de baianos, criada no Rio nos anos 80 nesse ambiente de pop rock de Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho. E verões na Bahia vendo Ilê Aye, Olodum, vendo a Timbalada surgir e Carlinhos Brown. Sou fã do funk, meu primero baile foi aos 13 anos quando fui ver o DJ Marlboro tocar no clube Mourisco, em Botafogo. Daí a sonoridade de afoxé funk que mantive neste disco, mas abri para outras coisas, porque tem um samba que Moraes Moreira fez para mim, "Leva eu pro samba", que é meu lado Beth Carvalho, e um funk carioca típico da Sandra de Sá, "Estágio do perigo", em que colocamos elementos da Bahia.
Ela diz que o afoxé funk não foi compreendido no primeiro disco, que teve como destaque uma canção de Ana Carolina e Totonho Villeroy, "Sinais de fogo", dentro dos padrões de MPB que não eram a tônica do disco. Desta vez ela saiu com um balanço de Davi Moraes chamado "Medida do amor" dentro dos parâmetros de afoxé funk.
O CD é dedicado ao produtor Tom Capone, morto há um ano, homenageado ainda com a inclusão da demo de "Cheiro de amor" que ele produziu quando Preta estava pensando num contrato para gravar o primeiro disco.
- Quando fiz meu primeiro show em 2002, o Tom quis gravar para mostrar para às gravadoras, mas como ele era diretor artístico da Warner levou vantagem. Ele pediu que eu escolhesse seis músicas do show que gostasse, escolhi algumas e gravamos a demo. Quando fomos fazer o segundo disco a Flora pediu uma regravação, não tenho esse hábito, gosto de cantar coisas antigas, mas tenho medo de cair no óbvio. Aí lembrei de "Cheiro de amor", música mixada, produzida e microfonada pelo Tom. Ela tem este frescor que eu gosto tanto, essa imaturidade do lado verde. Decidi trazer do jeito que ele deixou lá na fita digital. Uma bela homenagem e uma música linda que ele gostava muito, adorava essa voz, que tem muita coisa dele em efeitos - diz ela.
Adriana Calcanhotto e Dé Palmeira contribuíram com "Vá lá" que ela chama de balada típica de Adriana e Pedro Luís com a lenta "Valeu", de roupagem acústica, uma das melhores interpretações do disco. As demais faixas são da turma dela.
Gigi é baiano, baixista de Ivete Sangalo, mandou uma demo com dez músicas e ela gravou duas, "Muito perigoso" e "Suave". Fefe Gurman é um desses paulistas que chegam a Salvador e se encantam, amigo de Ari Moraes e ''Beat'' é dos dois, com a participação nuclear de Lenine.
- O disco já estava na fábrica para ser prensado quando Lenine respondeu um e-mail que eu tinha mandado 15 dias antes dizendo que topava fazer a música. Aí falei 'pára tudo que agora vocês vão ver'. Ele chegou e barbarizou, a música cresceu muito. É muita emoção para uma pessoa só - diz ela.
Outro momento alto para ela foi "Bateu saudade",de Boghan Costa e Gustavo di Dalva, este último baixista do pai dela. Preta decidiu fazer a faixa bem anos 80 e convidou Lincoln Olivetti, morrendo de medo que ele não aceitasse, mas ele topou e foi outra overdose de emoção. Preta diz que sabe de suas deficiências como cantora, lembrando que está no ofício há apenas três anos. Antes ela via a irmã Nara Gil cantar e adorava, mas enveredou por caminhos da produção, casou, teve um filho, Francisco, e diz que quando achou que tinha vencido, decidiu desmoronar com tudo e começar de novo.
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