Quando a esquerda norte-americana, que já tinha a seu crédito conquistas significativas no âmbito trabalhista, saiu nos anos 1960 e 1970 em busca de novas causas, encontrou nas chamadas "minorias", formadas por índios, mulheres, negros, hispânicos e homossexuais, um tema digno de militância apaixonada. Desses movimentos sociais da sociedade civil nasceu a chamada New Left, a quem é atribuída a gênese do que viria a ser o conceito do politicamente correto, disseminado depois para outros países.

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"A discussão dos preconceitos sociais foi uma conquista extraordinária dos anos 1970, que abriu caminho para uma compreensão plural, generosa e universal da condição humana, fundamentada na liberdade. São conquistas extraordinárias, frutos da educação, da leitura, do contato livre entre as culturas", diz o escritor Cristovão Tezza, colunista da Gazeta do Povo (leia entrevista completa com o autor na página ao lado).

Ridicularização

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Como quase toda ação corresponde a uma reação, muitas vezes em igual intensidade, mas em direção contrária, a direita, primeiro entre integrantes mais conservadores do Partido Republicano dos Estados Unidos, decidiu responder à altura, e com virulência. E isso significa, até hoje, rechaçar muitas das manifestações em defesa desses mesmos setores sub-representados, ironizando, ridicularizando e, por fim, procurando esvaziar seus legítimos intentos e discursos. E essa postura pode vir desacompanhada de argumentação.

Para a professora Sandra Maria Mattar, coordenadora do curso de licenciatura em Sociologia da PUCPR, o equilíbrio de forças entre os discursos politicamente correto e incorreto jamais se dará pela força de uma mediação do Estado. Ela cita o filósofo alemão Jüergen Habermas, para quem a mudança política dos valores, dos enfoques, resultam de uma função construtiva da opinião e da vontade. Portanto, depende do diálogo, da interação e, sim, de um jogo de forças que busque um equilíbrio ao longo do tempo, e nunca é estático.

Para a socióloga, um fator fundamental nesse processo construtivo é a tolerância, tanto por parte do humorista, que ironiza e satiriza, mas deve pensar nos limites do que diz, e em que medida pode estar violando a dignidade do outro "de quem fala", quanto dos próprios grupos e indivíduos que são alvos das piadas, que podem reclamar e se indignar ao se sentirem atingidos, mas não podem negar o direito de expressão a quem os atinge, sob o risco de ameaçar a mesma ordem democrática dentro da qual conquistaram voz.

Movimentos

Os movimento sociais lutam por causas que, aos poucos, ganharam contornos específicos, regras próprias e até mesmo um vocabulário peculiar a seu próprio âmbito de ação. E eles devem ser respeitados por serem uma conquista, diz Sandra. No entanto, os exageros, que extrapolem esses limites, se impondo de forma autoritária, passional e não flexível, de "patrulhamento", se tornam problemáticos na medida em que podem, justamente, abalar esse processo de busca por uma socidade inclusiva, com espaço garantido para as mais diversas vozes.

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