Trio de rock instrumental está com pegada eletrônica em novo disco.| Foto: Vinicius Grosbelli/Tudooquevoceve/Divulgação

Lá pelas tantas da hora do almoço de quinta-feira (11), encontro em uma rua do Centro de Curitiba os caras do Macaco Bong. Não escondo: sou fã. A sorte, portanto, era merecedora de um ato. Mas não há muito que dizer em um segundo - tempo que dura o cruzamento de passos que andam em direções contrárias. O que saiu foi um esforçado “estaremos lá!” Com essa mixaria, me comprometi com a banda inteira que assistiria ao show de divulgação do recém-lançado “Macumba Afrocimética”. A presença era, agora, uma questão de palavra, e honrei. Às 19h50, lá estava, posto na terceira fileira do Teatro Paiol, esperando ansioso o power trio mato-grossense feito de dois baixos começar a barulheira.

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Sim, dois baixos. A atual formação é talvez a mais corajosa proposta de Bruno Kayapy, que já provocou muito com a guitarra, mas não o suficiente pra largá-la por um show inteiro; faltaram as seis cordas. Mas o caso é de entender a paixão pelo filho mais novo. E então que seja a ausência uma dívida, uma promessa de retorno. E vamos ao show.

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Feito com os novos Macacos Julito (baixo) e Daniel Fumega (batera), a apresentação durou cerca de uma hora, pouco mais que a duração do álbum, graças a uma inédita que acabou entrando no repertório e aos ruídos eletrônicos que em alguns momentos sobraram. Em “Macumba Afrocimética”, faixa homônima do disco, além da bateria, o empreendimento é todo eletrônico. Nela, as camadas foram sampleadas por Kayapy, que pela primeira vez inseriu vozes na sua música, em mais um ato de reinvento.

Há inquietação. Para quem estava acostumado com o som cru dos álbuns “This Is Rolê” e “Artista Igual Pedreiro”, o novo estado da arte soa como uma revolução. Apesar do sentimento balançado pela significativa ausência, é possível reconhecer os sinais de vivacidade nas sobras. Sim, porque Kayapy, a alma por trás da banda, se mostra curioso quanto à própria criatividade. “Macumba Afrocimética” é o que acontece quando se coloca um baixo entre um amplificador de guitarra e um guitarrista. Não somente, há mais.

Na música #tapanapantera, o riff é bem marcado (fica na cabeça), realizada com poucas digressões, cuja dinâmica está mais nos ímpetos e menos nas estruturas. “A F I R M A T I V O” é lenta, espacial e nos remete a um cenário desértico, típico do stoner californiano. “Abramacabra” é o resultado brilhante de um slide sobre cordas 0.40. Em uma sentença: moderno pra dedéu. “William Bonger” é a menos potente, mas não menos sombria. Há muito sampler e nenhum espaço vazio de som que, sobreposto ao desenho verde das luzes, me lembrou imediatamente a palavra “selva”. Parabéns ao técnico de iluminação!

É mesmo isso: coesão. Nota-se que é possível a palavra de elogio exatamente por não contemplar os trabalhos anteriores no repertório. Em “Macumba Afrocimética”, a proposta está contida em todas as faixas. É o valor da unidade. A intenção é clara: um show agressivo, escuro e dançante. A impressão que fica sobre o trio Macaco Bong é precisamente essa: uma das bandas mais inventivas e experimentais da sua geração. Que permaneça!

Ao fim de tudo, um pedido de bis foi insistente. Pena que não veio. Numa próxima, espero que venha, se possível, com menos sobras e uma Stratocaster. Porque, no fundo, que se dane a coesão.

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