A década do 11/09
Veja a cobertura completa dos dez anos dos atentados de 11 de Setembro.
Entre os fatos e a ficção
Até Guerra ao Terror derrubar Avatar e vencer o Oscar de melhor filme, em 2010, era consenso entre grandes estúdios de Hollywood e produtores independentes que longas-metragens que de alguma forma lidassem com temas relacionados aos ataques do 11 de Setembro e à luta contra o terrorismo estavam provavelmente fadados ao fracasso. À exceção do documentário Fahrenheit 11 de Setembro (2004), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e grande sucesso internacional de bilheteria, poucos títulos que ousaram colocar o dedo na ferida aberta pelos atentados tiveram maior repercussão.
Uma outra literatura do terror
Nova York - Impossível dar conta dos livros acerca do 11 de Setembro. Falando direta ou indiretamente sobre o evento, são milhares em inglês e centenas em português, de ficção e de não ficção.
Cidade com psique alterada
Nova York - Tem dias em que os nova-iorquinos olham para cima e comentam melancolicamente que o céu está tão azul quanto em 11 de setembro de 2001. E há também momentos em que eles ouvem um avião passando e levantam os olhares, preocupados de que esteja voando baixo demais.
Políticas de imigração e segurança nacional se misturaram
Veja a entrevista com Mark Miller, professor da Universidade de Delaware e especialista em Segurança Nacional nos EUA.
Nova York - O mundo está mais frio em suas relações internacionais desde o dia em que 19 terroristas sequestraram quatro aviões e os arremeteram contra as Torres Gêmeas do World Trade Center e o prédio do Pentágono (um deles seguia para Washington, mas uma revolta dos passageiros contra os sequestradores o fez cair em um campo de Shanksville, na Pensilvânia).
Para os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, essa é grande consequência do 11 de Setembro. A maior entre várias que afetaram liberdades pessoais, geraram duas guerras no Oriente Médio no Afeganistão e no Iraque e alimentaram uma desconfiança infundada contra muçulmanos, que formam uma comunidade global de 1,5 bilhão de fiéis.
O professor Sidney Leite, pós-doutor em conflitos do Oriente Médio, explica que a mudança-chave causada pelos atentados terroristas de 2001 alterou a agenda internacional, até então dominada por conceitos de globalização, integração e cooperação entre os países, não importa o quão diferentes fossem.
Após os atentados, a agenda passou a ser voltada para o conflito, para questões ligadas ao terrorismo. "A integração econômica deu lugar ao discurso do choque das civilizações, alterou o que era mais significativo para o mundo", diz Leite.
O mundo foi da cooperação à desconfiança. A abertura iniciada no fim dos anos 1980, alimentada pelo fim da União Soviética e pela queda do Muro de Berlim, evaporou-se. "Os países passaram a se proteger mais e se fecharam mais", diz Leite, comparando o 11 de Setembro a uma "grande tempestade" de mudanças. Foi o começo de uma década infernal, sobretudo para os americanos. Uma década muitas vezes descrita como de desordem, fora de controle.
Cristina Tecequilo, professora de Relações Exteriores na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fala em como o equilíbrio de poder mundial foi alterado pelos atentados, detonando um processo de isolamento dos EUA. "Eles se afastaram dos outros países e assumiram um foco excessivo no militarismo, dando espaço para que forças regionais surgissem, em países emergentes", diz Cristina. O mundo, nos termos da professora, se tornou mais achatado os direitos pessoais foram esmagados pelo pânico do 11 de Setembro, que justificou inúmeras políticas agressivas.
"Ignora-se o fato de que a democracia preservada por meio da repressão não é democracia", diz a professora. Em uma atmosfera de horror, segundo Cristina, "as pessoas aceitam certas humilhações em nome de proteção". Pense, por exemplo, nos transtornos dos aeroportos, algo que muitos consideram um preço pequeno a pagar para se evitar uma ação terrorista.
Erros e acertos
"Acho que as restrições nas liberdades civis dentro dos EUA foram muito significativas. Embora eu não esteja certo de que existam outros países mais livres", diz o professor Robert Jervis, da Universidade Columbia, em Nova York.
Para Jervis, é mais fácil listar os erros do que os acertos da política externa americana. "As limitações nas liberdades civis americanas, a Guerra do Iraque, a incapacidade de se concentrar no que precisava ser feito no Afeganistão em vez de tentar reconstruir o país e, de maneira mais genérica, a crença enviesada de que o terrorismo é uma ameaça tamanha que combatê-la deveria ser a maior prioridade dos EUA", diz, enumerando os equívocos. "Com todos os erros americanos, é muito fácil perder de vista o fato de que as coisas poderiam ter sido muito piores."
Cristina Tecequilo diz que George W. Bush acelerou a queda da hegemonia americana. Muito embora o presidente e sua equipe o vice Dick Cheney e a secretária de Estado Condoleeza Rice não encarassem suas ações como erros, no fim do mandato de Bush, os EUA haviam perdido um bocado da credibilidade na política externa e tentaram recuperar espaço, mas era tarde demais.
Imigração
"Desde o 11 de Setembro, tem havido um exagero constante em relação aos riscos impostos pelos imigrantes à segurança do país. O resultado disso foram os abusos conhecidos que, infelizmente, parecem muito bem calculados para se obter vantagens políticas", diz Mark Miller, professor da Universidade de Delaware e especialista em Segurança Nacional.
Em entrevista para a Gazeta do Povo, Miller cita que, apenas nos últimos dois anos, mais de 800 mil imigrantes foram deportados dos EUA, baseados em uma lei de 1996 que se mostrou muito útil para o mundo pós-11 de Setembro. Poucos representavam um risco verdadeiro para a segurança nacional.
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