Diretor e Marçal Aquino têm parceria singular
A produção cinematográfica do diretor paulistano Beto Brant é das mais instigantes dentro do que se convencionou chamar de fase da Retomada do Cinema Brasileiro, cujo marco inicial é o lançamento comercial de Carlota Joaquina Princesa do Brazil, de Carla Camuratti, em 1995.
O Amor Segundo B. Schianberg, novo longa-metragem do cineasta paulista Beto Brant, não é uma obra de ficção. Tampouco pode ser classificado como documentário. O filme, que estreia amanhã no Unibanco Arteplex, em Curitiba, tem argumento baseado num personagem do romance Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino, parceiro constante do diretor. Mas não se trata, absolutamente, de uma adaptação do livro.
O diretor propôs à videoartista Marina Previato e ao ator Gustavo Machado dividir um apartamento em São Paulo por três semanas, onde eles viveram um intenso relacionamento diante de oito câmeras de vigilância, no estilo Big Brother, instaladas no interior do imóvel.
O resultado desse experimento, que Brant faz questão de chamar de "anti-reality show", é fascinante. Representação e vida real se confundem, criando um território híbrido que vem se consolidando como forte tendência no cinema autoral contemporâneo. Outro importante longa na safra atual do cinema brasileiro, Viajo Porque Preciso e Volto Porque Te Amo, do cearense Karim Aïnouz (de Madame Satã) e do pernambucano Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus), também funde essas duas instâncias de forma bastante original.
Experimento
Realizado dentro de um projeto da TV Cultura chamado Carnaval, O Amor Segundo B. Schianberg ganhou primeiro o formato de minissérie. Todo o imenso material captado ao longo dos mais de 20 dias de gravação foi editado em quatro capítulos, exibidos pela emissora pública paulista em coprodução com o Sesc TV e a Drama Filmes.
Em entrevista à Gazeta do Povo, por telefone, Brant contou que, como Marina e Gustavo mal se conheciam quando aceitaram o convite para o projeto, tudo poderia ocorrer dentro do apartamento, inclusive uma grande repulsa compartilhada pelos dois personagens. Por sorte, o convívio desembocou no surgimento de um envolvimento amoroso intenso e complexo, captado em tempo real pelas câmeras, também orquestradas pela diretora de fotografia curitibana Heloísa Passos.
Brant trabalhou pela primeira vez com uma mesa de corte, semelhante à utilizada na edição de reality shows como o Big Brother Brasil, sempre em busca do melhor ângulo, do momento mais íntimo e revelador, daquele instante que faz toda a diferença. Equipe e "elenco" estavam em apartamentos vizinhos, porém Marina e Gustavo tiveram contato mínimo com quem estava do outro lado da parede, os "espiando". "Eu me comunicava muito pouco com eles. Limitava-me a mandar algumas orientações através de e-mails, breves telefonemas e torpedos", diz Brant.
A partir da primeira edição feita para a televisão, Brant e sua equipe reviram o material filmado com o intuito de chegar a uma versão cinematográfica, a um longa-metragem, já previsto no projeto inicial. O filme, instigante para todos que busquem no cinema algo surpreendente, tem outros trunfos: anuncia, talvez, o surgimento de uma atriz interessante (Marina, cujo videoarte produzido durante o experimento integra o longa) e a confirmação do talento de Gustavo Machado, um ator em ascensão na cena paulistana e que estará no próximo trabalho de Brant, a adaptação do romance Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios. Desta vez, uma obra de ficção. GGGG
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