"Sonhando acordado" é o novo filme de Michel Gondry, o mesmo do excelente "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Desta vez, Gael Garcia Bernal protagoniza com garra esta nova história de amor com tons surrealistas. Agora é dele o papel de Jim Carrey: em essência, nada mais que um homem comum sofrendo de amor. O filme tem última sessão no Festival do Rio esta segunda-feira (24).
Stéphane Miroux (Gael) vive no México com o pai. Sua mãe francesa é proprietária de um prédio em Paris. Quando seu pai morre de câncer, Stéphane aceita o convita da mãe para ir morar em um de seus apartamentos e trabalhar como designer em uma empresa de calendários.
Ao chegar lá, Stéphane conhece sua vizinha de porta, Stéphanie (Charlotte Gainsburg), e se apaixona por ela. Como ela não nutre muita simpatia pela sua inquilina, Stéphane omite morar do outro lado do corredor e ser filho de quem é.
Manter esta mentira será mais fácil do que resolver uma particularidade que Stéphane carrega desde a infância: confundir sonho e realidade. E isto é um prato cheio para Gondry e suas "invenções" visuais. Através delas, ele encaminha o público para ele "sonhar acordado" junto com seu herói que, frustrado no trabalho, teme ver sua paixão seguindo o mesmo triste caminho. Para isso, ele terá que aprender a diferenciar o mundo dos sonhos do mundo real. E encarar a vida de frente, definitivamente.
Trabalhando muito bem com diversos elementos como animação em stop-motion, linguagem de TV (com chroma key) e de clipes, em "The science of sleep" (no original), o diretor, produtor e roteirista francês, em diversos momentos, consegue provocar lembranças de uma memória cinematográfica na qual se encaixam as obras de Polanski em início de carreira, além das seqüências mais oníricas de Bergman.
Com um fiapo de trama, Gondry também faz referências a trabalhos anteriores como diretor de videoclipes de bandas como White Stripes, Björk, Massive Attack, Chemical Brothers e Foo Fighters. Ao mesmo tempo, em "Sonhando acordado", mais uma vez ele faz um cinema com C maiúsculo, indiscutivelmente autoral. E que, aparentemente, também agrada ao público, visto que as duas sessões de sábado no Estação Ipanema lotaram com antecedência.