Jazz é música popular. Nasceu assim, na rua, da mão de negros pobres americanos, e cresceu em bares enfumaçados onde pessoas de boa reputação não entravam. Hoje, quando se olha o requintado ambiente de um palco TIM Club, por exemplo, de ingressos a R$ 120,00, muitas vezes isso é esquecido. É ótimo, pois que nesse cenário surja algo como a Spok Frevo Orquestra para nos lembrar o berço popular da nobreza jazz. E, por outro lado, para que possamos apreciar a riqueza musical da tradição do frevo, nem sempre absorvida no calor da festa em que ele costuma ser executado.
Mas, fora considerações históricas tênues, o que tem a ver jazz e frevo? Quem teve o privilégio de ouvir a apresentação do grupo pernambucano, aprendeu já na abertura, com "Passo de anjo", que se a euforia bebop tivesse nascido nas ladeiras de Olinda, seria aquilo. No saxofone, mestre Spok comandou outros dezesseis instrumentistas num convite à alegria simples e a excelência musical - que não raro caminharam lado a lado, ao contrário do que pensam alguns acadêmicos.
A formação do grupo dá uma idéia da pressão - ou "zuada", nas palavras de Spok - de que eles são capazes. São quatro trombones, quatro trompetes, quatro saxofones, guitarra, baixo, duas percussões e bateria. Juntos, tendo o frevo por base, eles se permitiam caminhos rítmicos inesperados ("Nino, o pernambuquinho"); dinâmicas ousadas, com referências que iam do universo das big bands, talvez até pela trilha pop de Mancini, até as linhas de metais do soul ("Ponta de lança"); longas introduções de guitarra ("Ela me disse", que começa um lento bossa-jazz, só na guitarra, e explode num frevo incendiário) e baixo ("Mexe com tudo", solo classudo).
Nos diálogos dos metais, por vezes trombones e trompetes montavam a base para os saxofones desfilarem. Em outras músicas, acontecia o contrário. Didaticamente e dando exemplos, Spok explicou as nuances entre os diferentes tipos de "frevo de rua", modalidade que eles tocam. O mais mágico, na sua opinião, é o "frevo de abafa", tocado para abafar o som dos outros blocos.
- No frevo de abafa, nem pensar em dinâmica, crescendo, forte e fraco. E afinação, então, vai para o espaço - explicou o simpático Spok, em meio a risos da platéia. - Mas é o mais mágico, porque foi ali que tudo começou.
Foi com a pressão do abafa - mas sem abrir mão da dinâmica - que a Spok Frevo Orquestra encerrou o show, com a clássica "Vassourinhas". E despediu-se da platéia carioca deixando um convite na tradição repentista, para que visitem a terra deles, que "não é o céu, mas é parecido". Tentador.
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